Página 207 - O Grande Conflito

Basic HTML Version

Os nobres da França
203
as igrejas. A exortação solene de Farel veio-lhe, porém, como um
chamado do Céu, e não ousou recusar-se. Parecia-lhe, disse ele, “que
a mão de Deus estivesse estendida do Céu, tomando-o e fixando-o ir-
revogavelmente no lugar que ele estava tão o impaciente por deixar.”
— História da Reforma no Tempo de Calvino, D’Aubigné.
Por aquele tempo grandes perigos cercavam a causa protestante.
Os anátemas do papa trovejavam contra Genebra, e poderosas nações
ameaçavam-na de destruição. Como poderia esta pequena cidade
resistir à potente hierarquia que tantas vezes obrigara reis e impe-
radores à submissão? Como poderia ela enfrentar os exércitos dos
grandes vencedores do mundo?
Em toda a cristandade o protestantismo estava ameaçado por
temíveis adversários. Passados os primeiros triunfos da Reforma,
Roma convocou novas forças, esperando ultimar sua destruição.
Nesse tempo fora criada a ordem dos jesuítas — o mais cruel, sem
escrúpulos e poderoso de todos os defensores do papado. Separados
de laços terrestres e interesses humanos, insensíveis às exigências
das afeições naturais, tendo inteiramente silenciadas a razão e a
consciência, não conheciam regras nem restrições, além das da pró-
pria ordem, e nenhum dever, a não ser o de estender o seu poderio.
O evangelho de Cristo havia habilitado seus adeptos a enfrentar o
perigo e suportar sem desfalecer o sofrimento, pelo frio, fome, labu-
tas e pobreza, a fim de desfraldar a bandeira da verdade, em face do
instrumento de tortura, do calabouço e da fogueira. Para combater
estas forças, o jesuitismo inspirou seus seguidores com um fanatismo
que os habilitava a suportar semelhantes perigos, e opor ao poder
da verdade todas as armas do engano. Não havia para eles crime
grande demais para cometer, nenhum engano demasiado vil para
praticar, disfarce algum por demais difícil para assumir. Votados à
pobreza e humildade perpétuas, era seu estudado objetivo conseguir
riqueza e poder para se dedicarem à subversão do protestantismo e
restabelecimento da supremacia papal.
[235]
Quando apareciam como membros de sua ordem, ostentavam
santidade, visitando prisões e hospitais, cuidando dos doentes e po-
bres, professando haver renunciado ao mundo, e levando o nome
sagrado de Jesus, que andou fazendo o bem. Mas sob esse irrepre-
ensível exterior, ocultavam-se freqüentemente os mais criminosos e
mortais propósitos. Era princípio fundamental da ordem que os fins