Página 256 - O Grande Conflito

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Capítulo 16 — O mais sagrado direito do homem
Os reformadores ingleses, conquanto renunciassem às doutrinas
do romanismo, retiveram muitas de suas formas. Assim, posto que
rejeitados a autoridade e o credo de Roma, não poucos de seus costu-
mes e cerimônias foram incorporados ao culto da Igreja Anglicana.
Alegava-se que essas coisas não constituíam questões de consciên-
cia, e que, embora não ordenadas nas Escrituras, e conseguintemente
não essenciais, não eram más em si mesmas, visto não serem proi-
bidas. Sua observância tendia a diminuir o abismo que separava
de Roma as igrejas reformadas, e insistia-se que promoveriam a
aceitação da fé protestante pelos romanistas.
Aos conservadores e condescendentes, pareciam decisivos estes
argumentos. Havia, porém, outra classe que assim não pensava. O
fato de que esses costumes “tendiam a lançar uma ponte sobre o
abismo entre Roma e a Reforma” (Martyn), era em sua opinião um
argumento conclusivo contra o retê-los. Olhavam para eles como
distintivos da escravidão de que haviam sido libertados, e para a
qual não se sentiam dispostos a voltar. Raciocinavam que Deus,
em Sua Palavra, estabeleceu regras para ordenar o Seu culto, e que
os homens não estão na liberdade de acrescentar a essas regras ou
delas tirar qualquer coisa. O princípio mesmo da grande apostasia
consistiu em procurar fazer da autoridade da igreja um suplemento
da autoridade de Deus. Roma começou por ordenar o que Deus não
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tinha proibido, e acabou por proibir o que Ele havia explicitamente
ordenado.
Muitos desejavam fervorosamente voltar à pureza e simplicidade
que caracterizavam a igreja primitiva. Consideravam muitos dos
costumes estabelecidos pela Igreja Anglicana como monumentos
da idolatria, e não podiam conscienciosamente unir-se a seu culto.
Mas a igreja, apoiada pela autoridade civil, não permitia opiniões
contrárias às suas formas. A assistência aos seus cultos era exigida
por lei, e proibiam-se as assembléias para culto que não tivessem
autorização, sob pena de encarceramento, exílio e morte.
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