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              História da Redenção
            
            
              se lhe fosse devida. O fulgor do orgulho satisfeito era visível em
            
            
              sua face quando ouviu a exclamação: “É voz de um deus, e não
            
            
              de homem!” As mesmas vozes que agora glorificavam um vil pe-
            
            
              cador, alguns anos antes elevaram-se num frenético clamor: Fora
            
            
              com Jesus! Crucifica-O! crucifica-O! Herodes recebeu esta adula-
            
            
              ção e homenagem com grande prazer, e seu coração transbordou
            
            
              de triunfo; subitamente, porém, sobreveio-lhe rápida e terrível mu-
            
            
              dança. Seu rosto se tornou pálido como a morte e contorcido pela
            
            
              [299]
            
            
              agonia; grandes gotas de suor lhe brotavam dos poros. Ficou por um
            
            
              momento como que traspassado de dor e terror; então, volvendo a
            
            
              face branqueada, lívida para seus amigos tomados de horror, excla-
            
            
              mou em tom rouco e desesperado: Aquele que exaltastes como um
            
            
              deus, é ferido de morte!
            
            
              Sofrendo a mais cruciante angústia, foi retirado daquela cena
            
            
              de orgia, ostentação, alacridade e pompa, as quais agora abominava
            
            
              em sua alma. Um momento antes ele tinha sido o alvo orgulhoso do
            
            
              louvor e adoração daquela vasta multidão — agora se compenetra de
            
            
              que se acha nas mãos de um Governador mais poderoso do que ele
            
            
              próprio. Remorsos o apanham; lembra-se de sua ordem cruel para
            
            
              matar o inocente Tiago; lembra-se de sua implacável perseguição
            
            
              aos seguidores de Jesus, e de seu desígnio de tirar a vida do apóstolo
            
            
              Pedro, a quem Deus livrou de sua mão; lembra-se de como em
            
            
              seu desgosto e decepcionada raiva tirara uma injusta desforra dos
            
            
              guardas da prisão, executando-os sem misericórdia. Sentia que Deus
            
            
              que libertara da morte o apóstolo estava agora a tratar com ele, o
            
            
              implacável perseguidor. Não encontrava alívio para a dor do corpo
            
            
              nem para a angústia do espírito, e nem esperava encontrar. Herodes
            
            
              conhecia a lei de Deus, que diz: “Não terás outros deuses diante de
            
            
              Mim”, e sabia que, aceitando a adoração do povo, enchera a medida
            
            
              de sua iniqüidade e acarretara sobre si a justa ira de Deus.
            
            
              O mesmo anjo que viera dos paços reais para libertar a Pedro
            
            
              do poder de seu perseguidor, fora o mensageiro da ira e juízo a
            
            
              Herodes. O anjo tocou em Pedro para despertá-lo do sono, mas
            
            
              foi com um contato diferente que ele feriu o ímpio rei, trazendo
            
            
              [300]
            
            
              sobre ele castigo mortal. Deus lançou o desprezo sobre o orgulho de
            
            
              Herodes, e sua pessoa, a qual tinha exibido, adornada em brilhante
            
            
              aparência diante do olhar admirado do povo, era agora comida de