46
História da Redenção
A maldição sobre a terra a princípio tinha sido sentida apenas
levemente; mas agora uma dupla maldição repousava sobre ela.
Caim e Abel representam as duas classes, os justos e os ímpios, os
crentes e os incrédulos, que deviam existir desde a queda do homem
até o segundo advento de Cristo. O assassínio de Abel por seu irmão
Caim, representa os ímpios que teriam inveja dos justos, odiando-
os porque são melhores do que eles. Teriam inveja e perseguiriam
os justos e os arrastariam à morte, porque seu reto proceder lhes
condenava a conduta pecaminosa.
[55]
A vida de Adão foi de um triste, humilde e contínuo arrependi-
mento. Quando ensinava seus filhos e netos a temerem o Senhor,
era com freqüência amargamente reprovado por seu pecado, de que
resultara tanta miséria sobre sua posteridade. Quando deixou o belo
Éden, o pensamento de que ele deveria morrer fazia-o estremecer
de horror. Olhava para a morte como uma terrível calamidade. Foi
primeiro familiarizado com a horrível realidade da morte na famí-
lia humana, pelo seu próprio filho Caim ao matar seu irmão Abel.
Cheio de amargo remorso por sua própria transgressão e privado de
seu filho Abel, olhando a Caim como um assassino, e conhecendo
a maldição que Deus pronunciara sobre ele, o coração de Adão
quebrantou-se de dor. Muito amargamente ele se reprovou por sua
primeira grande transgressão. Suplicou o perdão de Deus mediante
o Sacrifício prometido. Profundamente havia ele sentido a ira de
Deus pelo crime cometido no Paraíso. Testemunhou a corrupção
geral que mais tarde finalmente forçou Deus a destruir os habitantes
da Terra por um dilúvio. A sentença de morte pronunciada sobre ele
por seu Criador, que a princípio lhe pareceu tão terrível, depois que
ele viveu algumas centenas de anos, parecia justa e misericordiosa
em Deus, pois trazia o fim a uma vida miserável.
Ao testemunhar Adão os primeiros sinais da decadência da Na-
tureza com o cair das folhas e o murchar das flores, chorou mais
sentidamente do que os homens hoje choram os seus mortos. As
flores murchas não eram a razão maior do desgosto, visto serem
tenras e delicadas; mas as altaneiras, nobres e robustas árvores ar-
remessando suas folhas e apodrecendo, apresentavam diante dele a
dissolução geral da linda Natureza, que Deus criara para especial
benefício do homem.
Para seus filhos e os filhos deles, até a nona geração, ele descrevia
[56]