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O Maior Discurso de Cristo
de um lugar para outro, acompanhado de sua guarda, lançava mão
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dos camponeses judeus que trabalhavam no campo, forçando-os a
carregar fardos, montanhas acima ou a prestar outro qualquer serviço
de que necessitassem. Isto estava em harmonia com a lei e o costume
romanos, e a resistência a exigências desta ordem apenas daria lugar
a sarcasmos e crueldades. Dia a dia se aprofundava no coração do
povo o anseio de sacudir o jugo romano. Especialmente entre os
ousados galileus de rijos pulsos, era predominante o espírito de
insurreição. Como cidade fronteiriça, era Cafarnaum sede de uma
guarnição, e mesmo enquanto Jesus estava ensinando, a vista de
um grupo de soldados evocou a Seus ouvintes a amarga lembrança
da humilhação de Israel. O povo olhava ansiosamente para Cristo,
esperando que fosse Ele Aquele que houvesse de humilhar o orgulho
romano.
Foi com tristeza que Jesus contemplou as faces voltadas para
Ele. Observava o espírito de vingança que estampara seus maus
traços sobre eles, conhecendo quão veementemente ansiava o povo
o poder a fim de esmagar seus opressores. Com tristeza, Ele lhes
ordena: “Não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face
direita, oferece-lhe também a outra.”
Estas palavras não eram senão uma reiteração do ensino do
Velho Testamento. É verdade que a regra: “olho por olho, e dente
por dente” (
Levítico 24:20
), era uma providência nas leis dadas por
intermédio de Moisés; era, porém, um estatuto civil. Ninguém seria
justificado em se vingar a si mesmo; pois tinham as palavras do
Senhor: “Não digas: vingar-me-ei.” “Não digas: Como ele me fez
a mim, assim lhe farei a ele.” “Quando cair o teu inimigo, não te
alegres.” “Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; e
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se tiver sede, dá-lhe água para beber.”
Provérbios 20:22
;
24:29, 17
;
25:21, 22
.
Toda a vida terrestre de Jesus foi uma manifestação deste prin-
cípio. Foi para trazer o pão da vida a Seus inimigos, que nosso
Salvador deixou Seu lar no Céu. Se bem que se amontoassem so-
bre Ele calúnias e perseguições desde o berço até à sepultura, estas
não Lhe provocaram senão expressões de um amor que perdoa. Por
intermédio do profeta Isaías, Ele diz: “As Minhas costas dou aos
que Me ferem, e as Minhas faces aos que me arrancam os cabelos:
não escondo a Minha face dos que Me afrontam e me cospem.”