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Parábolas de Jesus
tanto mais justo parece ele. Sua justiça própria leva-o a acusar. “Os
demais homens”, condena ele como transgressores da lei de Deus.
Deste modo manifesta o próprio espírito de Satanás, o acusador dos
irmãos. Impossível lhe é neste espírito entrar em comunhão com
Deus. Volta para sua casa destituído da bênção divina.
O publicano entrou no templo juntamente com outros adorado-
res, mas, como se fosse indigno de tomar parte na devoção, apartou-
se logo deles. “Estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar
os olhos ao céu, mas batia no peito”, em profunda angústia e aver-
são própria. Sentia que transgredira a lei de Deus e era pecador e
poluído. Não podia esperar nem mesmo piedade dos circunstantes;
porque todos o observavam com desprezo. Sabia que em si não tinha
méritos para recomendá-lo a Deus, e em absoluto desespero, clamou:
“Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”
Lucas 18:13
. Não
se comparou com outros. Esmagado por um senso de culpa, estava
como que só, na presença de Deus. Seu único desejo era alcançar
paz e perdão; sua única súplica, a bênção de Deus. E foi abençoado.
“Digo-vos”, disse Cristo, “que este desceu justificado para sua casa,
e não aquele.”
Lucas 18:14
.
O fariseu e o publicano representam os dois grandes grupos em
que se dividem os adoradores de Deus. Seus primeiros representan-
tes encontram-se nos dois primeiros filhos nascidos neste mundo.
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Caim julgava-se justo, e foi a Deus com uma simples oferta de gra-
tidão. Não fez confissão de pecado, nem reconheceu que carecia
de misericórdia. Abel, porém, foi com o sangue que apontava ao
Cordeiro de Deus. Foi como pecador que confessava estar perdido;
sua única esperança era o imerecido amor de Deus. O Senhor Se
agradou de seu sacrifício, mas de Caim e de sua oferta não Se agra-
dou. A intuição de necessidade, o reconhecimento de nossa pobreza
e pecado, é a primeira condição para sermos aceitos por Deus. “Bem-
aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus.”
Mateus 5:3
.
Para cada um dos grupos representados pelo fariseu e o publi-
cano, há uma lição na história do apóstolo Pedro. Na primeira parte
de seu discipulado, Pedro tinha-se por forte. Semelhante ao fari-
seu, não era a seus olhos “como os demais homens”.
Lucas 18:11
.
Quando Cristo, na noite em que foi traído, preveniu Seus discípulos:
“Todos vós esta noite vos escandalizareis em Mim”, Pedro retrucou