120
Patriarcas e Profetas
O patriarca estava morando em Berseba, rodeado de prosperidade
e honra. Era muito rico, e acatado pelos governadores da Terra como
príncipe poderoso. Milhares de ovelhas e cabeças de gado cobriam
as planícies que se estendiam para além de seu acampamento. De
todos os lados estavam as tendas de seus dependentes, os lares, de
centenas de servos fiéis. O filho da promessa havia crescido até à
idade adulta ao seu lado. O Céu parecia ter coroado com sua bênção
uma vida de sacrifício, ao suportar pacientemente o adiamento das
esperanças.
Na obediência da fé, Abraão havia abandonado o país natal:
afastara-se dos túmulos de seus pais, e do lar de sua parentela. Va-
gueara como um estrangeiro na terra de sua herança. Tinha esperado
por muito tempo pelo nascimento do herdeiro prometido. Por ordem
de Deus despedira seu filho Ismael. E agora, quando o filho que fora
desejado durante tanto tempo chegava à varonilidade, e o patriarca
parecia poder divisar os frutos de suas esperanças, uma prova maior
do que todas as outras estava diante dele.
A ordem foi expressa em palavras que deveriam ter contorcido
angustiosamente aquele coração de pai: “Toma agora o teu filho, o
teu único filho Isaque, a quem amas, [...] e oferece-o ali em holo-
causto”.
Gênesis 22:2
. Isaque era-lhe a luz do lar, a consolação da
velhice, e acima de tudo o herdeiro da bênção prometida. A perda
de tal filho por desastre, ou moléstia, teria despedaçado o coração
do pai extremoso; teria curvado sua encanecida cabeça pela dor;
entretanto, foi-lhe ordenado derramar o sangue daquele filho, com
sua própria mão. Pareceu-lhe uma terrível impossibilidade.
Satanás estava a postos para sugerir que ele devia estar enga-
nado, pois que a lei divina ordena: “Não matarás” (
Êxodo 20:13
),
e Deus não exigiria o que uma vez proibira. Saindo ao lado de sua
tenda, Abraão olhou para o calmo resplendor do céu sem nuvens, e
lembrou-se da promessa feita quase cinqüenta anos antes, de que sua
[100]
semente seria numerosa como as estrelas. Se esta promessa devia
cumprir-se por meio de Isaque, como poderia ele ser morto? Abraão
foi tentado a crer que poderia estar iludido. Em sua dúvida e angústia
prostrou-se em terra e orou, como nunca antes orara, pedindo al-
guma confirmação da ordem quanto a dever ele cumprir essa terrível
incumbência. Lembrou-se dos anjos enviados para revelar-lhe o pro-
pósito de Deus de destruir Sodoma, e que lhe trouxeram a promessa