Página 125 - Patriarcas e Profetas (2007)

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A prova da fé
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deste mesmo filho Isaque, e foi para o lugar em que várias vezes
encontrara os mensageiros celestiais, esperando encontrá-los outra
vez, e receber algumas instruções mais; mas nenhum veio em seu
socorro. As trevas pareciam envolvê-lo; mas a ordem de Deus estava
a soar-lhe aos ouvidos: “Toma agora o teu filho, o teu único filho
Isaque, a quem tu amas”.
Gênesis 22:2
. Aquela ordem devia ser
obedecida, e não ousou demorar-se. O dia se aproximava, e ele devia
estar a caminho.
Voltando à sua tenda, foi ao lugar em que Isaque, deitado, dormia
o sono profundo, calmo, da juventude e inocência. Por um momento
o pai olhou para o rosto querido do filho; voltou então a tremer. Foi
ao lado de Sara, que também estava a dormir. Deveria despertá-la,
para que mais uma vez pudesse abraçar o filho? Deveria falar-lhe
do mandado de Deus? Anelava aliviar o coração, falando a ela, e
partilhar juntamente com ela desta terrível responsabilidade; mas se
conteve pelo temor de que o pudesse impedir. Isaque era a alegria e
o orgulho dela; sua vida estava ligada a ele, e o amor de mãe poderia
recusar-se ao sacrifício.
Finalmente Abraão chamou o filho, falando-lhe da ordem de ofe-
recer sacrifício em uma montanha distante. Isaque tinha freqüentes
vezes ido com o pai a adorar em algum dos vários altares que assi-
nalavam suas peregrinações, e esta chamada não provocou surpresa.
Fizeram-se rapidamente os preparativos para a viagem. Preparou-se
a lenha, puseram-na sobre o jumento, e com dois servos partiram.
Lado a lado, pai e filho viajavam silenciosamente. O patriarca,
ponderando seu cruel segredo, não tinha ânimo para falar. Seus
pensamentos estavam naquela mãe ufana e extremosa, e considerava
o dia em que sozinho deveria voltar a ela. Bem sabia que a faca lhe
cortaria o coração, quando tirasse a vida de seu filho.
Aquele dia — o mais comprido que jamais Abraão experimentara
— arrastava-se vagarosamente ao seu termo. Enquanto seu filho e
os moços dormiam, passou ele a noite em oração, esperando ainda
que algum mensageiro celestial pudesse vir dizer que a prova já era
suficiente, que o jovem poderia voltar ileso para sua mãe. Nenhum
alívio, porém, lhe veio à alma torturada. Outro longo dia, outra noite
de humilhação e oração, enquanto a ordem que o deveria deixar
desfilhado lhe repercutia sempre no ouvido. Perto estava Satanás
para insinuar dúvidas e incredulidade; mas Abraão resistiu a suas