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Patriarcas e Profetas
de seus principais personagens. A mente dos homens é tão sujeita ao
preconceito que não é possível serem as histórias humanas absolu-
tamente imparciais. Houvesse a Bíblia sido escrita por pessoas não
inspiradas, e teria sem dúvida apresentado o caráter de seus homens
honrados sob uma luz mais lisonjeira. Mas, assim como é, temos
um registro exato de suas experiências.
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Homens a quem Deus favoreceu, e a quem confiou grandes res-
ponsabilidades, foram algumas vezes vencidos pela tentação, e co-
meteram pecado, mesmo como nós, presentemente, esforçamo-nos,
vacilamos, e freqüentemente caímos em erro. Sua vida, com todas
as suas faltas e loucuras, estão patentes diante de nós, tanto para
a nossa animação como advertência. Se eles fossem representados
como estando sem faltas, nós, com a nossa natureza pecaminosa, po-
deríamos desesperar-nos pelos nossos erros e fracassos. Mas, vendo
onde outros lutaram através de desânimos semelhantes aos nossos,
onde caíram sob a tentação como o temos feito, e como todavia
se reanimaram e venceram pela graça de Deus, animemo-nos em
nosso esforço para alcançar a justiça. Como eles, embora algumas
vezes repelidos, recuperaram o terreno, e foram abençoados por
Deus, assim nós também podemos ser vencedores na força de Jesus.
De outro lado, o registro de sua vida pode servir como advertência
para nós. Mostra que Deus de nenhuma maneira terá por inocente o
culpado. Ele vê o pecado nos seus mais favorecidos, e trata com o
mesmo neles mais estritamente até do que naqueles que têm menos
luz e responsabilidade.
Depois do sepultamento de Jacó, o temor encheu novamente o
coração dos irmãos de José. Apesar de sua bondade para com eles,
uma culpabilidade consciente fê-los desconfiados e suspeitosos.
Poderia ser que tão-somente houvesse ele retardado a vingança por
consideração a seu pai, e que agora por seu crime trouxesse sobre
eles o castigo, por tanto tempo adiado. Não ousaram aparecer diante
dele, pessoalmente, mas enviaram uma mensagem: “Teu pai mandou,
antes da sua morte, dizendo: assim direis a José: Perdoa, rogo-te,
a transgressão de teus irmãos, e o seu pecado, porque te fizeram
mal; agora pois rogamos-te que perdoes a transgressão dos servos
do Deus do teu pai.” Esta mensagem afetou José até as lágrimas, e,
animados com isto, seus irmãos vieram e prostraram-se diante dele,
com as palavras: “Eis-nos aqui por teus servos.” O amor de José por