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Patriarcas e Profetas
regra de justiça de Deus, compenetraram-se, como nunca antes, do
caráter ofensivo do pecado, e de sua própria culpabilidade à vista
de um Deus santo. Recuaram da montanha com medo e espanto. A
multidão clamou a Moisés: “Fala tu conosco, e ouviremos; e não
fale Deus conosco, para que não morramos”.
Êxodo 20:19-21
. O
líder respondeu: “Não temais, que Deus veio para provar-vos, e para
que o Seu temor esteja diante de vós, para que não pequeis.” O
povo, entretanto, permaneceu à distância, olhando com terror a cena,
enquanto Moisés “se chegou à escuridade onde Deus estava”.
A mente do povo, cega e aviltada pela escravidão ao paganismo,
não estava preparada para apreciar completamente os princípios
de grande alcance dos dez preceitos de Deus. Para que pudessem
os deveres expressos no Decálogo ser entendidos e impostos mais
plenamente, deram-se preceitos adicionais, ilustrando os princípios
dos Dez Mandamentos e dando-lhes aplicação. Estas leis foram
chamadas juízos, tanto porque eram organizadas com sabedoria e
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eqüidade infinitas, como porque deveriam os magistrados julgar de
acordo com elas. Diferente dos Dez Mandamentos, foram transmiti-
das particularmente a Moisés, que as deveria comunicar ao povo.
A primeira destas leis referia-se aos servos. Nos tempos antigos,
os criminosos eram algumas vezes vendidos como escravos pelos
juízes; nalguns casos os devedores eram vendidos pelos seus credo-
res; e a pobreza levava mesmo pessoas a vender a si ou a seus filhos.
Um hebreu, porém, não podia ser vendido como escravo para toda a
vida. Seu prazo de serviço limitava-se a seis anos; no sétimo deveria
ser posto em liberdade. O furto de homens, o assassínio premeditado,
e a rebelião contra a autoridade paterna, eram punidos com a morte.
Era permitida a manutenção de escravos que não fossem israelitas
de nascimento, mas sua vida e pessoa eram estritamente guardadas.
O assassino de um escravo devia ser castigado; um agravo infligido
a um deles pelo seu senhor, ainda que fosse a perda de um dente,
dava o direito à liberdade.
Os próprios israelitas tinham sido recentemente escravos, e agora
que iam ter servos sob suas ordens, deviam guardar-se de alimentar
um espírito de crueldade e extorsão, de que haviam sofrido sob os
maiorais de tarefas no Egito. A lembrança de sua amarga servidão
devia habilitá-los a colocar-se no lugar do servo, levando-os a ser