Página 683 - Patriarcas e Profetas (2007)

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A rebelião de Absalão
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administração da justiça. Absalão ardilosamente mudava cada causa
de descontentamento em proveito próprio. Dia após dia este homem
de semblante nobre podia ser visto à porta da cidade, onde uma
multidão de suplicantes esperava a fim de apresentar suas queixas
e receber justiça. Absalão misturava-se com eles, e escutava seus
agravos, exprimindo simpatia pelos seus sofrimentos, e pesar pela
ineficiência do governo. Tendo assim ouvido a história de um homem
de Israel, o príncipe replicava: “Os teus negócios são bons e retos,
porém não tens quem te ouça da parte do rei”; e acrescentava: “Ah,
quem me dera ser juiz na Terra! para que viesse a mim todo homem
que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça. Sucedia
também que, quando alguém se achegava a ele para se inclinar diante
dele, ele estendia a sua mão, e pegava dele, e o beijava.”
Fomentado pelas artificiosas insinuações do príncipe, o descon-
tentamento com o governo estava-se espalhando rapidamente. O
elogio a Absalão estava nos lábios de todos. Era geralmente consi-
derado como herdeiro do reino; o povo olhava para ele com orgulho,
como sendo digno deste elevado cargo, e acendeu-se o desejo de
que ele ocupasse o trono.
“Assim furtava Absalão o coração dos homens de Israel”.
2
Samuel 15:4-6
. No entanto, o rei, cego pelo afeto para com seu
filho, de nada suspeitava. A condição principesca que Absalão havia
assumido, era considerada por Davi como tendo em vista honrar a
sua corte, ou seja, como uma expressão de alegria pela reconciliação.
Estando preparada a mente do povo para o que havia de seguir-se,
Absalão secretamente enviou homens escolhidos por todas as tribos,
a fim de combinar as necessárias providências para uma revolta.
[541]
E agora o manto da devoção religiosa foi tomado para esconder
seus intuitos traidores. Um voto feito muito tempo antes, quando ele
estava no desterro, devia ser cumprido em Hebrom. Absalão disse ao
rei: “Deixa-me ir pagar em Hebrom o meu voto que votei ao Senhor.
Porque, morando eu em Gesur, em Síria, votou o teu servo um voto,
dizendo: Se o Senhor outra vez me fizer tornar a Jerusalém, servirei
ao Senhor.” Então o extremoso pai, reconfortado com esta prova de
piedade em seu filho, despediu-o com sua bênção. A conspiração
estava agora completamente amadurecida. O ato final de Absalão,
inspirado na hipocrisia, destinava-se não somente a cegar o rei, mas