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Atos dos Apóstolos
tados e amados como dirigentes, produziu dolorosa impressão na
mente dos crentes gentios. A igreja foi ameaçada de divisão. Mas
Paulo, que viu a subversiva influência do erro praticado para com
a igreja pela duplicidade de atitude da parte de Pedro, reprovou-o
abertamente por dissimular assim seus verdadeiros sentimentos. Na
presença da igreja, Paulo argüiu a Pedro: “Se tu, sendo judeu, vives
como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a
viverem como judeus?”
Gálatas 2:14
.
Pedro viu o erro em que havia caído, e procurou imediatamente
reparar, tanto quanto possível, o mal que causara. Deus, que conhece
o fim desde o princípio, permitiu que Pedro revelasse essa fraqueza
de caráter, para que o provado apóstolo visse nada haver em si de
que se pudesse vangloriar. Mesmo os melhores homens, se entre-
gues a si próprios, errarão no julgamento. Deus viu também que no
tempo por vir, alguns seriam tão iludidos que atribuiriam a Pedro e
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seus pretensos sucessores as elevadas prerrogativas que só a Deus
pertencem. E esse registro de fraqueza do apóstolo permanece como
uma prova de sua falibilidade, e de que ele, de modo algum, esteve
acima do nível dos outros apóstolos.
A história desse desvio dos retos princípios permanece como
solene advertência a homens em posições de confiança na causa
de Deus, para que não venham a fracassar na integridade mas se
apeguem firmemente ao princípio. Quanto maiores forem as res-
ponsabilidades colocadas sobre o agente humano, e quanto mais
amplas suas oportunidades para mandar e controlar, é certo que mais
erros cometerá, se não seguir cuidadosamente o caminho do Senhor
e trabalhar em harmonia com as decisões tomadas pelo corpo geral
de crentes reunidos em concílio.
Depois de todas as faltas de Pedro; depois de sua queda e restau-
ração, seu longo tempo de serviço, sua intimidade com Cristo, seu
conhecimento da correta prática dos retos princípios do Salvador;
depois de toda a instrução recebida, todos os dons, conhecimento
e influência obtidos pela pregação e ensino da Palavra — não é
estranho que ele dissimulasse e evitasse os princípios do evangelho
por temor dos homens, ou para captar a estima? Não é estranho que
ele vacilasse no apego ao direito? Possa Deus dar a cada homem o
reconhecimento de seu desamparo, sua incapacidade para guiar o
próprio barco seguro e a salvo para o porto.