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O Desejado de Todas as Nações
Pacientemente escutava Jesus os contraditórios testemunhos.
Nem uma palavra proferia em defesa própria. Por fim os acusadores
viram-se emaranhados, confusos e enfurecidos. O julgamento não
avançava: dir-se-ia que suas tramas iam fracassar. Caifás estava
desesperado. Restava um único recurso; Cristo devia ser forçado
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a condenar a Si mesmo. O sumo sacerdote ergueu-se da cadeira
de juiz, fisionomia transtornada pela paixão, indicando pela voz e
as maneiras que, estivesse em seu poder, e abateria o Preso que
se achava diante dele. “Não respondes coisa alguma ao que estes
depõem contra Ti?” (
Mateus 26:62
) exclamou.
Jesus guardou silêncio. “Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua
boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e, como a ovelha
muda perante os Seus tosquiadores, Ele não abriu a Sua boca”.
Isaías
53:7
.
Por fim Caifás, erguendo para o Céu a mão direita, dirigiu-se a
Jesus na forma de um solene juramento: “Conjuro-Te pelo Deus vivo
que nos digas se Tu és o Cristo, o Filho de Deus”.
Mateus 26:63
.
Em face desse apelo não podia Cristo permanecer silencioso.
Havia tempo de ficar mudo e tempo de falar. Não falara antes que
fosse diretamente interrogado. Sabia que responder agora era tornar
certa Sua morte. Mas o apelo era feito pela mais alta autoridade
reconhecida da nação, e em nome do Altíssimo. Cristo não deixaria
de mostrar o devido respeito pela lei. Mais ainda, Sua própria relação
para com o Pai era invocada. Precisa declarar plenamente Seu caráter
e missão. Dissera aos discípulos: “Qualquer que Me confessar diante
dos homens, Eu o confessarei diante de Meu Pai, que está nos Céus”.
Mateus 10:32
. Agora, pelo próprio exemplo, repetiu a lição.
Todos os ouvidos se inclinaram para escutar, e todos os olhos se
fixaram em Seu rosto, ao responder: “Tu o disseste.” Uma luz celeste
parecia iluminar-Lhe o pálido semblante, ao acrescentar: “Digo-vos,
porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita
do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu”.
Mateus 26:64
.
Por um momento a divindade de Cristo irrompeu através do invó-
lucro humano. O sumo sacerdote recuou diante do penetrante olhar
do Salvador. Aquele olhar parecia ler-lhe os pensamentos ocultos, e
arder-lhe no coração. Nunca, no resto de sua vida, esqueceu aquele
perscrutador olhar do perseguido Filho de Deus.