Página 623 - O Desejado de Todas as Na

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Perante Anás e o tribunal de Caifás
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“Vereis em breve”, disse Jesus, “o Filho do homem assentado à
direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu.” Nessas palavras,
apresentou Cristo o reverso da cena que então ocorria. Ele, o Senhor
da vida e da glória, estaria sentado à destra de Deus. Seria o juiz de
toda a Terra, e de Suas decisões não haveria apelação. Então tudo
que estava oculto seria trazido à luz da presença divina, e o juízo
feito sobre cada homem segundo as suas obras.
As palavras de Cristo sobressaltaram o sumo sacerdote. A idéia
de que haveria uma ressurreição de mortos, quando todos se acha-
riam diante do tribunal de Deus, para ser recompensados segundo
as suas obras, era um pensamento aterrador para Caifás. Ele não
desejava crer que, no futuro, receberia sentença segundo as suas
ações. Acudiram-lhe à mente, como um panorama, as cenas do juízo
final. Por um momento viu o terrível espetáculo das sepulturas dando
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os seus mortos, com os segredos que eles esperavam estarem para
sempre ocultos. Sentiu-se por um momento como à presença do
eterno Juiz, cujo olhar, que vê todas as coisas, estava a ler-lhe a
alma, trazendo à luz mistérios que supunha ocultos com os mortos.
A cena desapareceu da visão do sacerdote. As palavras de Cristo
o espicaçavam vivamente, a ele, o saduceu. Caifás negara a doutrina
da ressurreição, do juízo e da vida futura. Ficou então enlouquecido
por uma fúria satânica. Esse Homem, um preso diante dele, havia de
atacar suas mais acariciadas teorias? Rasgando os vestidos, para que
o povo visse o pretenso horror que experimentava, exigiu que, sem
posteriores preliminares, fosse o Preso condenado por blasfêmia.
“Para que precisamos ainda de testemunhas?” disse ele; “Eis que
bem ouvistes agora a Sua blasfêmia. Que vos parece?”
Mateus 26:65,
66
. E todos O condenaram.
A convicção, de mistura com a paixão, levou Caifás a agir como
fez. Estava furioso consigo mesmo por crer nas palavras de Cristo
e, em lugar de rasgar o coração sob um profundo sentimento da
verdade e confessar ser Jesus o Messias, rasgou as vestes sacerdo-
tais, em decidida resistência. Esse ato era de profunda significação.
Mal compreendia Caifás o seu sentido. Nesse ato, realizado para
influenciar os juízes e garantir a condenação de Cristo, condenara
o sumo sacerdote a si mesmo. Pela lei divina estava desqualificado
para o sacerdócio. Proferira sobre si mesmo a sentença de morte.