Página 627 - O Desejado de Todas as Na

Basic HTML Version

Perante Anás e o tribunal de Caifás
623
discípulo de Cristo que, em nossos dias, disfarça sua fé por temor
[501]
de sofrimento ou ignomínia, nega a seu Senhor tão realmente como
o fez Pedro na sala do julgamento.
Pedro procurou não manifestar interesse no julgamento do Mes-
tre, mas tinha o coração confrangido de dor ao ouvir as cruéis zom-
barias e ver os maus-tratos que Ele estava sofrendo. Mais ainda,
estava surpreendido e irritado de que Jesus assim Se humilhasse a
Si e a Seus seguidores, submetendo-Se a esse tratamento. A fim de
ocultar o que na verdade sentia, procurou unir-se aos perseguidores
de Jesus em seus intempestivos gracejos. Seu aspecto, no entanto,
não era natural. Estava representando uma mentira, e conquanto
procurasse falar despreocupadamente, não podia suster expressões
de indignação ante os abusos acumulados contra o Mestre.
Pela segunda vez foi a atenção chamada para ele, sendo no-
vamente acusado de ser seguidor de Jesus. Declarou então, com
juramento: “Não conheço tal homem.” Outra oportunidade lhe foi
dada ainda. Passara-se uma hora, quando um dos servos do sumo
sacerdote, sendo parente próximo do homem cuja orelha Pedro cor-
tara, lhe perguntou: “Não te vi eu no horto com Ele?” “Também este
verdadeiramente estava com Ele, pois também é galileu.” “Tua fala
te denuncia.” Diante disso Pedro se exaltou. Os discípulos de Jesus
eram notados pela pureza da linguagem, e para enganar bem a seus
interlocutores e justificar o aspecto que assumira, Pedro negou então
ao Mestre com imprecação e juramento. Novamente o galo cantou.
Pedro o ouviu então e lembrou as palavras de Jesus: “Antes que o
galo cante duas vezes, três vezes Me negarás”.
Marcos 14:30
.
Quando os degradantes juramentos acabavam de sair dos lábios
de Pedro e o penetrante canto do galo lhe ressoava ainda no ouvido,
o Salvador voltou-Se dos severos juízes, olhando em cheio ao pobre
discípulo. Ao mesmo tempo os olhos de Pedro eram atraídos para o
Mestre. Naquele suave semblante leu ele profunda piedade e tristeza;
nenhuma irritação, porém, se via ali.
A vista daquele rosto pálido e sofredor, daqueles trêmulos lábios,
daquele olhar compassivo e cheio de perdão, penetrou-lhe a alma
como uma seta. Despertou-se a consciência. Ativou-se a memória.
Pedro recordou sua promessa de poucas horas antes, de que havia de
ir com seu Senhor à prisão e à morte. Lembrou-se de seu desgosto
quando, no cenáculo, Ele lhe dissera que havia de negar seu Senhor