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O Desejado de Todas as Nações
três vezes naquela noite. Pedro acabava mesmo de declarar que não
conhecia a Jesus, mas compreendia agora com amarga dor quão
bem o Senhor o conhecia e quão exatamente lhe lera o coração, cuja
falsidade nem ele próprio conhecia.
Acudiram-lhe recordações em tropel. A terna misericórdia do
Salvador, Sua bondade e longanimidade, Sua brandura e paciên-
cia para com os errantes discípulos — tudo lhe veio à memória.
Lembrou a advertência: “Simão, eis que Satanás vos pediu para vos
cirandar como trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça”.
Lucas 23:31, 32
. Refletiu com horror em sua própria
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ingratidão, falsidade, perjúrio. Olhou uma vez mais para o Mestre,
e viu sacrílega mão levantada para Lhe bater na face. Incapaz de
suportar por mais tempo a cena, precipitou-se, coração quebrantado,
para fora da sala.
E avançou, pela solidão e a treva, sem saber nem cuidar para
onde. Encontrou-se, enfim, no Getsêmani. A cena de poucas horas
antes acudiu-lhe vivamente à memória. O rosto sofredor de Jesus,
manchado de sanguinolento suor e convulsionado pela agonia, surgiu
diante dele. Lembrou-se com atroz remorso que Ele chorara e Se
angustiara sozinho em oração, ao passo que os que se Lhe deviam
ter unido naquela probante hora estavam adormecidos. Lembrou-
Lhe a solene recomendação: “Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação”.
Mateus 26:41
. Testemunhou novamente a cena na sala do
julgamento. Foi-lhe tortura ao coração a sangrar, saber que ajuntara
o maior peso à humilhação e pesar do Salvador. No próprio lugar
em que Jesus derramara a alma em agonia perante o Pai, Pedro caiu
sobre o rosto e desejou morrer.
Fora por dormir quando Jesus lhe recomendara vigiar e orar,
que Pedro preparara o caminho para seu grande pecado. Todos os
discípulos, dormindo na hora crítica, sofreram grande dano. Cristo
sabia a cruel prova por que eles haviam de passar. Sabia como
Satanás havia de agir para lhes paralisar os sentidos, a fim de se
acharem desapercebidos para a prova. Fora por isso que lhes dera
aviso. Houvessem aquelas horas no horto sido passadas em vigília e
oração, e Pedro não teria ficado dependente de suas débeis forças.
Não teria negado a seu Senhor. Houvessem os discípulos velado com
Cristo em Sua agonia, e estariam preparados para Lhe contemplar
os sofrimentos na cruz. Teriam compreendido, até certo ponto, a