Página 635 - O Desejado de Todas as Na

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Judas
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Em tudo quanto Cristo dizia aos discípulos, havia qualquer coisa
com a qual, no coração, Judas não concordava. Sob sua influência
fazia rápidos progressos o fermento da deslealdade. Os discípulos
não percebiam em tudo isso o verdadeiro agente; mas Jesus via que
Satanás estava comunicando a Judas os seus atributos, e abrindo
assim um conduto mediante o qual viria a influenciar os outros
discípulos. Isso declarara Cristo um ano antes da traição. “Não os
escolhi a vós os doze?” disse Ele, “um de vós é um diabo”.
João
6:70
.
Todavia, Judas não fazia oposição aberta, nem parecia duvidar
das lições do Salvador. Não murmurou exteriormente até o tempo
da festa em casa de Simão. Quando Maria ungiu os pés do Salva-
dor, Judas manifestou sua disposição cobiçosa. Ante a reprovação
de Jesus, o espírito pareceu tornar-se-lhe em fel. Orgulho ferido e
desejo de vingança romperam as barreiras, e dominou-o a ganância
com que por tanto tempo condescendera. Será essa a experiência de
todo aquele que persistir em contemporizar com o pecado. Os ele-
mentos de depravação a que não se resiste, ou que não são vencidos,
correspondem à tentação de Satanás, e a alma é levada cativa à sua
vontade.
Mas Judas ainda não estava de todo endurecido. Mesmo de-
pois de se ter duas vezes comprometido a trair seu Salvador, havia
oportunidade de arrependimento. À ceia pascoal Jesus provou Sua
divindade, ao revelar os desígnios do traidor. Incluiu ternamente a
Judas no serviço prestado aos discípulos. Mas o último apelo de
amor foi desatendido. Então o caso de Judas ficou decidido, e os pés
que Jesus lavou saíram para ir fazer a obra do traidor.
Judas raciocinava que, se Jesus devia ser crucificado, o aconte-
cimento se havia de dar. Seu próprio ato em trair o Salvador não
mudaria o resultado. Se Jesus não devia morrer, isso apenas O for-
çaria a Se livrar. Fosse como fosse, Judas lucraria alguma coisa por
sua traição. Julgava haver feito um inteligente negócio em trair seu
Senhor.
Judas não acreditava, entretanto, que Cristo Se deixasse prender.
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Traindo-O, intentava dar-Lhe uma lição. Pretendia desempenhar
um papel, que daí em diante, tornaria o Salvador cuidadoso quanto
a tratá-lo com o devido respeito. Mas Judas não sabia que estava
entregando Cristo à morte. Quantas vezes, ao ensinar o Salvador