Página 645 - O Desejado de Todas as Na

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Na sala de julgamento de Pilatos
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tira os agudos espinhos do remorso por seu terrível ato; mas suas
percepções morais se tinham rebaixado mais e mais em razão de sua
vida licenciosa. Tinha agora tão endurecido o coração, que podia
mesmo gabar-se do castigo infligido a João por ousar reprová-lo. E
ameaçou então a Jesus, declarando repentinamente que tinha poder
para libertá-Lo e para condená-Lo. Nenhum indício da parte de Jesus
dava, entretanto, a compreender que Ele ouvisse uma palavra.
Herodes irritou-se por esse silêncio. Parecia indicar completa
indiferença por sua autoridade. Para o vão e pomposo rei, teria sido
menos ofensiva uma franca censura, do que ser assim passado por
alto. De novo ameaçou, irado, a Jesus, que permaneceu impassível e
mudo.
A missão de Cristo neste mundo não era satisfazer ociosas curio-
sidades. Veio para curar os quebrantados de coração. Pudesse Ele ter
proferido qualquer palavra para sarar as feridas das almas enfermas
de pecado, e não guardaria silêncio. Não tinha, no entanto, palavras
para os que não fariam senão pisar a verdade com seus profanos pés.
Cristo poderia ter dirigido a Herodes palavras que penetrariam
nos ouvidos do endurecido rei. Podê-lo-ia haver sacudido com temor
e tremor pela exposição de toda a iniqüidade de sua vida, e do
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horror de seu próximo fim. Mas o silêncio de Cristo era a mais
severa repreensão que lhe poderia ter ministrado. Herodes rejeitara a
verdade que lhe fora anunciada pelo maior dos profetas, e nenhuma
outra mensagem havia de receber. Nem uma palavra tinha para ele a
Majestade do Céu. Aqueles ouvidos sempre abertos para os lamentos
humanos, não tinham lugar para as ordens de Herodes. Aqueles
olhos sempre fixos no pecador arrependido, com um amor cheio
de piedade, e de perdão, não tinham nenhum olhar para conceder a
Herodes. Aqueles lábios que emitiram a mais impressiva verdade,
que em acentos da mais terna súplica pleitearam com o mais pecador
e mais degradado, cerraram-se para o soberbo rei que não sentia
necessidade de um Salvador.
O rosto de Herodes se ensombrou de paixão. Voltando-se para a
turba, acusou, encolerizado, a Jesus de impostor. E depois, para Ele:
se não deres prova de Tua pretensão, entregar-Te-ei aos soldados e
ao povo. Talvez sejam bem-sucedidos em Te fazer falar. Se és um
impostor, a morte por suas mãos é a única coisa que mereces; se és
o Filho de Deus, salva-Te a Ti mesmo operando um milagre.