Página 663 - O Desejado de Todas as Na

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O Calvário
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mas dEle fora desviado pelos sacerdotes e príncipes. Procurando
abafar a convicção, imergira mais e mais fundo no pecado, até que
foi preso, julgado como criminoso e condenado a morrer na cruz.
No tribunal e a caminho para o Calvário, estivera em companhia de
Jesus. Ouvira Pilatos declarar: “Não acho nEle crime algum”.
João
19:4
. Notara-Lhe o porte divino, e Seu piedoso perdão aos que O
atormentavam. Na cruz, vê os muitos grandes doutores religiosos
estenderem desdenhosamente a língua, e ridicularizarem o Senhor
Jesus. Vê o menear das cabeças. Ouve a ultrajante linguagem repe-
tida por seu companheiro de culpa. “Se Tu és o Cristo, salva-Te a Ti
mesmo, e a nós”.
Lucas 23:39
. Ouve, entre os transeuntes, muitos a
defenderem Jesus. Ouve-os repetindo-Lhe as palavras, narrando-Lhe
as obras. Volve-lhe a convicção de que Este é o Cristo. Voltando-se
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para seu companheiro no crime, diz: “Tu nem ainda temes a Deus,
estando na mesma condenação?”
Lucas 23:40
. Os ladrões moribun-
dos não mais têm a temer os homens. Mas um deles é assaltado pela
convicção de que há um Deus a temer, um futuro a fazê-lo tremer. E
agora, todo poluído pelo pecado como se acha, a história de sua vida
está a findar. “E nós, na verdade, com justiça”, geme ele, “porque
recebemos o que nossos feitos mereciam; mas Este nenhum mal
fez”.
Lucas 23:41
.
Não há questão agora. Não há dúvidas, nem censuras também.
Quando condenado por seu crime, o ladrão ficara possuído de de-
sânimo e desespero; mas pensamentos estranhos, ternos, surgem
agora. Evoca tudo quanto ouvira de Jesus, como Ele curara os doen-
tes e perdoara os pecados. Ouvira as palavras dos que nEle criam
e O seguiram em pranto. Vira e lera o título por sobre a cabeça do
Salvador. Ouvira-o repetido pelos que passavam, alguns com lábios
tristes e trêmulos, outros com gracejos e zombarias. O Espírito Santo
ilumina-lhe a mente, e pouco a pouco se liga a cadeia das provas.
Em Jesus ferido, zombado e pendente da cruz, vê o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo. Num misto de esperança e de
agonia em sua voz, a desamparada, moribunda alma atira-se sobre o
agonizante Salvador. “Senhor, lembra-Te de mim, quando vieres no
Teu reino” (
Lucas 23:42
, Trad. Trinitariana).
A resposta veio pronta. Suave e melodioso o acento, cheias de
amor, de compaixão e de poder as palavras: “Na verdade te digo
hoje, que serás comigo no Paraíso”.
Lucas 23:43
.