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O Desejado de Todas as Nações
Essas palavras não foram murmuradas em segredo. Todos os
olhos se volveram a ver de onde provinham. Quem falara? Fora o
centurião, o soldado romano. A divina paciência do Salvador, e Sua
súbita morte, com o grito de vitória nos lábios, impressionara esse
pagão. No ferido, quebrantado corpo pendente da cruz, reconheceu
o centurião a figura do Filho de Deus. Não pôde deixar de confessar
sua fé. Assim foi novamente dada a prova de que nosso Redentor
devia ver o trabalho de Sua alma. No mesmo dia de Sua morte, três
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homens, diferindo largamente entre si, declaravam sua fé — o que
comandava a guarda romana, o que conduzira a cruz do Salvador e
o que morrera na cruz, ao Seu lado.
Ao aproximar-se a noite, um silêncio estranho pairou sobre o
Calvário. A multidão dispersou-se, e muitos volveram a Jerusalém
com espírito bem diverso do que tinham pela manhã. Muitos haviam
afluído à crucifixão por curiosidade, e não por ódio para com Cristo.
Contudo, acreditavam nas acusações dos sacerdotes e olhavam-nO
como malfeitor. Sob uma agitação fora do natural, uniram-se à turba
em injuriá-Lo. Quando, porém, a Terra foi envolta em trevas, e se
sentiram acusados pela própria consciência, acharam-se culpados
de uma grande injustiça. Nenhum gracejo ou riso de escárnio se
ouviu em meio daquela terrível escuridão; e, dissipada ela, fizeram
o caminho de volta a casa em solene silêncio. Estavam convencidos
de que as acusações dos sacerdotes eram falsas, de que Jesus não
era nenhum impostor; e algumas semanas mais tarde, quando Pedro
pregou no dia de Pentecostes, achavam-se entre os milhares que se
converteram a Cristo.
Mas os guias judaicos não se mudaram pelos acontecimentos que
haviam presenciado. Não arrefecera seu ódio para com Jesus. A treva
que cobria a Terra durante a crucifixão, não era mais densa que a que
ainda envolvia o espírito dos sacerdotes e principais. Em Seu nasci-
mento, a estrela conhecera a Cristo e guiara os magos à manjedoura
onde jazia. As hostes celestiais conheceram-nO e entoaram-Lhe o
louvor por sobre as planícies de Belém. Conhecera-Lhe o mar a voz
e obedecera a Sua ordem. A doença e a morte reconheceram-Lhe a
autoridade, entregando-Lhe sua presa. O Sol O conhecera e, à vista
de Sua agonia e morte, ocultara a face luminosa. Conheceram-nO as
rochas, e fenderam-se, fragmentando-se ao Seu brado. A natureza
inanimada conhecera a Cristo, e dera testemunho de Sua divindade.