Página 109 - O Grande Conflito

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A influência de um bom lar
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do auxílio divino, e não deixava de iniciar cada dia com oração,
enquanto o íntimo estava continuamente a respirar uma súplica de
guia e apoio. “Orar bem”, dizia ele muitas vezes, “é a melhor metade
do estudo.”
Enquanto um dia examinava os livros da Biblioteca da Univer-
sidade, Lutero descobriu uma Bíblia latina. Nunca dantes vira tal
Livro. Ignorava mesmo sua existência. Tinha ouvido porções dos
evangelhos e epístolas, que se liam ao povo no culto público, e su-
punha que isso fosse a Escritura toda. Agora, pela primeira vez,
olhava para o todo da Palavra de Deus. Com um misto de reverência
e admiração, folheava as páginas sagradas. Pulso acelerado e co-
ração palpitante, lia por si mesmo as palavras de vida, detendo-se
aqui e acolá para exclamar: “Oh! quem dera Deus me desse tal
livro!” — História da Reforma do Século XVI, D’Aubigné. Anjos
celestiais estavam a seu lado, e raios de luz procedentes do trono de
Deus traziam-lhe à compreensão os tesouros da verdade. Sempre te-
mera ofender a Deus, mas agora a profunda convicção de seu estado
pecaminoso apoderou-se dele como nunca dantes.
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Um desejo ardente de se achar livre do pecado e encontrar paz
com Deus, levou-o afinal a entrar para um mosteiro e dedicar-se à
vida monástica. Exigiu-se-lhe, ali, efetuar os mais humildes trabalhos
e mendigar de porta em porta. Estava na idade em que o respeito
e a apreciação são mais avidamente desejados, e essas ocupações
servis eram profundamente mortificadoras para os seus sentimentos
naturais; pacientemente, porém, suportou a humilhação, crendo ser
necessária por causa de seus pecados.
Todo momento que podia poupar de seus deveres diários em-
pregava-o no estudo, furtando-se ao sono e cedendo mesmo a con-
tragosto o tempo empregado em suas escassas refeições. Acima de
tudo se deleitava no estudo da Palavra de Deus. Achara uma Bíblia
acorrentada à parede do convento, e a ela muitas vezes recorria.
Aprofundando-se suas convicções de pecado, procurou pelas pró-
prias obras obter perdão e paz. Levava vida austera, esforçando-se
por meio de jejuns, vigílias e penitências para subjugar os males
de sua natureza, dos quais a vida monástica não o libertava. Não
recuava ante sacrifício algum pelo qual pudesse atingir a pureza de
coração que o habilitaria a ficar aprovado perante Deus. “Eu era na
verdade um monge piedoso”, disse, mais tarde, “e seguia as regras