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O Grande Conflito
de minha ordem mais estritamente do que possa exprimir. Se fora
possível a um monge obter o Céu por suas obras monásticas, eu
teria certamente direito a ele. ... Se eu tivesse continuado por mais
tempo, teria levado minhas mortificações até à própria morte.” —
D’Aubigné. Como resultado desta dolorosa disciplina, perdeu as
forças e sofreu de desmaios, de cujos efeitos nunca se restabeleceu
por completo. Mas com todos os seus esforços, a alma sobrecar-
regada não encontrou alívio. Finalmente foi arrojado às bordas do
desespero.
Quando pareceu a Lutero que tudo estava perdido, Deus lhe
suscitou um amigo e auxiliador. O piedoso Staupitz abriu a Palavra
de Deus ao espírito de Lutero, mandando-lhe que não mais olhasse
para si mesmo, que cessasse a contemplação do castigo infinito
pela violação da lei de Deus, e olhasse a Jesus, seu Salvador que
perdoa os pecados. “Em vez de torturar-te por causa de teus pecados,
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lança-te nos braços do Redentor. Confia nEle, na justiça de Sua vida,
na expiação de Sua morte. ... Escuta ao Filho de Deus. Ele Se fez
homem para te dar a certeza do favor divino.” “Ama Aquele que
primeiro te amou.” — D’Aubigné. Assim falava aquele mensageiro
da misericórdia. Suas palavras produziram profunda impressão no
espírito de Lutero. Depois de muita luta contra erros, longamente
acalentados, pôde ele aprender a verdade e lhe veio paz à alma
perturbada.
Lutero foi ordenado sacerdote, sendo chamado do claustro para
o cargo de professor da Universidade de Wittenberg. Ali se aplicou
ao estudo das Escrituras nas línguas originais. Começou a fazer
conferências sobre a Bíblia; e o livro dos Salmos, os Evangelhos e as
Epístolas abriram-se à compreensão de multidões que se deleitavam
em ouvi-lo. Staupitz, seu amigo e superior, insistia com ele para que
subisse ao púlpito e pregasse a Palavra de Deus. Lutero hesitava,
sentindo-se indigno de falar ao povo em lugar de Cristo. Foi apenas
depois de longa luta que cedeu às solicitações dos amigos. Era já
poderoso nas Escrituras, e sobre ele repousava a graça de Deus.
Sua eloqüência cativava os ouvintes, a clareza e poder com que
apresentava a verdade levavam-nos à convicção, e seu fervor tocava
os corações.
Lutero ainda era um verdadeiro filho da igreja papal, e não
tinha idéia alguma de que houvesse de ser alguma outra coisa. Na