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O Grande Conflito
Quando Simão, o mago, propôs comprar dos apóstolos o poder
de operar milagres, Pedro lhe respondeu: “O teu dinheiro seja con-
tigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por
dinheiro.”
Atos 8:20
. A oferta de Tetzel, porém, foi aceita por ávidos
milhares. Ouro e prata eram canalizados para o seu tesouro. Uma
salvação que se poderia comprar com dinheiro obtinha-se mais fa-
cilmente do que a que exige o arrependimento, fé e esforço diligente
para resistir ao pecado e vencê-lo.
À doutrina das indulgências tinham-se oposto homens de saber
e piedade da Igreja Romana, e muitos havia que não tinham fé em
pretensões tão contrárias tanto à razão como à revelação. Nenhum
prelado ousou erguer a voz contra este iníquo comércio; mas o
espírito dos homens estava-se tornando perturbado e desassossegado,
e muitos com avidez inquiriam se Deus não operaria mediante algum
instrumento a purificação de Sua igreja.
Lutero, conquanto ainda católico romano da mais estrita classe,
encheu-se de horror ante as blasfemas declarações dos traficantes
das indulgências. Muitos de sua própria congregação haviam com-
prado certidões de perdão, e logo começaram a dirigir-se a seu
pastor, confessando seus vários pecados e esperando absolvição,
não porque estivessem arrependidos e desejassem corrigir-se, mas
sob o fundamento da indulgência. Lutero recusou-lhes a absolvição,
advertindo-os de que, a menos que se arrependessem e reformas-
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sem a vida, haveriam de perecer em seus pecados. Com grande
perplexidade voltaram a Tetzel, queixando-se de que seu confessor
recusara-lhes o certificado; e alguns ousadamente exigiram que se
lhes restituísse o dinheiro. O frade encheu-se de cólera. Proferiu
as mais terríveis maldições, fez com que se ascendessem fogos nas
praças públicas, e declarou haver “recebido ordem do papa para quei-
mar todos os hereges que pretendessem opor-se às suas santíssimas
indulgências.” — D’Aubigné.
Entra Lutero, então, ousadamente, em sua obra como campeão
da verdade. Sua voz era ouvida do púlpito em advertência ardorosa
e solene. Expôs ao povo o caráter ofensivo do pecado, ensinando-
lhes ser impossível ao homem, por suas próprias obras, diminuir
as culpas ou fugir ao castigo. Nada, a não ser o arrependimento
para com Deus e a fé em Cristo, pode salvar o pecador. A graça de
Cristo não pode ser comprada; é dom gratuito. Aconselhava o povo