Página 116 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
corrupção que crescia rapidamente e que promanava da Sé de Roma.
Príncipes e magistrados secretamente se regozijavam de que estava
para ser posto um paradeiro ao arrogante poder que negava o direito
de apelar contra suas decisões.
As multidões, supersticiosas e amantes do pecado, ficaram ater-
rorizadas quando se varreram os sofismas que lhes acalmavam os
temores. Ardilosos eclesiásticos, interrompidos em sua obra de san-
cionar o crime, e vendo perigar seus lucros, encolerizaram-se e se
arregimentaram para sustentar suas pretensões. O reformador teve
atrozes acusadores a defrontar. Alguns o acusavam de agir preci-
pitadamente e por impulso. Outros, de ser presunçoso, declarando
mais que ele não era dirigido por Deus, mas que atuava por orgulho
e ardor. “Quem é que não sabe”, respondia ele, “que raramente um
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homem apresenta uma idéia nova, sem que tenha alguma aparên-
cia de orgulho, e seja acusado de excitar rixas? ... Por que foram
mortos Cristo e todos os mártires? Porque pareciam ser orgulhosos
desprezadores da sabedoria de seu tempo, e porque apresentavam
idéias novas sem ter primeiro humildemente tomado conselho com
os oráculos das antigas opiniões.”
Declarou mais: “O que quer que eu faça, não será feito pela
prudência do homem, mas pelo conselho de Deus. Se a obra for de
Deus, quem a poderá deter? se não, quem a poderá promover? Nem
minha vontade, nem a deles, nem a nossa; mas a Tua vontade, ó
santo Pai, que estás no Céu.” — D’Aubigné.
Posto que Lutero tivesse sido movido pelo Espírito de Deus para
iniciar sua obra, não a deveria ele levar avante sem severos conflitos.
As acusações dos inimigos, a difamação de seus propósitos e os
injustos e maldosos reparos acerca de seu caráter e intuitos, sobre-
vieram-lhe como um dilúvio avassalador; e não ficaram sem efeito.
Ele confiara em que os dirigentes do povo, tanto na igreja como
nas escolas, se lhe uniriam alegremente nos esforços em favor da
Reforma. Palavras de animação por parte dos que se achavam em
elevadas posições, haviam-lhe inspirado alegria e esperança. Já, em
antecipação, vira ele um dia mais radiante despontar para a igreja.
Mas a animação tinha-se transformado em censuras e condenações.
Muitos dignitários, tanto da Igreja como do Estado, estavam con-
victos da verdade de suas teses; mas logo viram que a aceitação
dessas verdades implicaria grandes mudanças. Esclarecer e refor-