Página 122 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
Se bem que Lutero se houvesse munido de salvo-conduto, os
romanistas estavam conspirando para apanhá-lo e aprisioná-lo. Seus
amigos insistiam em que, como lhe era inútil prolongar sua perma-
nência, deveria sem demora voltar a Wittenberg, e que a máxima
cautela se deveria ter no sentido de ocultar suas intenções. De acordo
com isto, ele deixou Augsburgo antes do raiar do dia, a cavalo, acom-
panhado apenas de um guia a ele fornecido pelo magistrado. Com
muitos pressentimentos atravessou sem ser percebido as ruas escu-
ras e silenciosas da cidade. Inimigos, vigilantes e cruéis, estavam
a conspirar para a sua destruição. Escaparia das ciladas que lhe
preparavam? Eram momentos de ansiedade e fervorosas orações.
Atingiu uma pequena porta no muro da cidade. Abriu-se-lhe e, com
o guia, por ela passou sem impedimento. Uma vez livres do lado de
fora, os fugitivos apressaram a fuga e, antes que o legado soubesse
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da partida de Lutero, achava-se ele além do alcance de seus perse-
guidores. Satanás e seus emissários estavam derrotados. O homem
que haviam pensado estar em seu poder, tinha-se ido, escapara-se,
como um pássaro da armadilha do caçador.
Com as notícias da fuga de Lutero, o legado ficou opresso de
surpresa e cólera. Esperara ele receber grande honra por seu tino e
firmeza ao tratar com o perturbador da igreja; mas frustrara-se-lhe a
esperança. Deu expressão à sua raiva em carta a Frederico, o eleitor
da Saxônia, denunciando com amargura a Lutero, e reclamando
que Frederico enviasse o reformador a Roma ou que o banisse da
Saxônia.
Em sua defesa, Lutero insistia em que o legado do papa lhe
mostrasse seus erros pelas Escrituras, e comprometia-se da maneira
mais solene a renunciar a suas doutrinas se se pudesse mostrar
estarem em desacordo com a Palavra divina. E exprimia sua gratidão
a Deus por haver sido considerado digno de sofrer por uma causa
tão santa.
O eleitor possuía ainda pouco conhecimento das doutrinas re-
formadas, mas estava fundamente impressionado pela sinceridade,
força e clareza das palavras de Lutero; e, até que se provasse estar
o reformador em erro, resolveu Frederico permanecer como seu
protetor. Em resposta ao pedido do legado, escreveu: “‘Visto que
o Dr. Martinho compareceu perante vós, em Augsburgo, deveríeis
estar satisfeito. Não esperávamos que vos esforçásseis por fazê-lo