Página 123 - O Grande Conflito

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A influência de um bom lar
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retratar-se sem o haver convencido de seus erros. Nenhum dos ho-
mens doutos de nosso principado me informou de que a doutrina de
Martinho seja ímpia, anticristã ou herética.’ O príncipe recusou-se,
além disso, a enviar Lutero a Roma, ou expulsá-lo de seus domínios.”
— D’Aubigné.
O eleitor notara uma ruína geral das restrições morais na socie-
dade. Era indispensável grande obra de reforma. As complicadas e
dispendiosas medidas para restringir e punir o crime seriam desne-
cessárias se os homens tão-somente reconhecessem e obedecessem
à lei de Deus e aos ditames de uma consciência esclarecida. O
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eleitor via que Lutero trabalhava para conseguir este objetivo, e se-
cretamente se regozijava de que uma influência melhor se estivesse
fazendo sentir na igreja.
Via também que, como professor na Universidade, Lutero tivera
extraordinário êxito. Um ano apenas se passara desde que o refor-
mador afixara as teses na igreja do castelo, e no entanto, já havia
grande baixa no número de peregrinos que visitavam a igreja na
festa de Todos os Santos. Roma fora privada de adoradores e ofer-
tas, mas seu lugar se preenchera por outra classe que agora vinha
a Wittenberg, não como peregrinos para adorar suas relíquias, mas
como estudantes para encher as suas salas de estudo. Os escritos de
Lutero haviam suscitado por toda parte novo interesse nas Escrituras
Sagradas, e não somente de todos os recantos da Alemanha, mas de
outros países, que congregavam estudantes na Universidade. Moços,
chegando à vista de Wittenberg pela primeira vez, “erguiam as mãos
ao Céu e louvavam a Deus por ter feito com que desta cidade a luz
da verdade resplandecesse como de Sião, nos tempos antigos, e dali
se espalhasse mesmo aos mais longínquos países.” — D’Aubigné.
Lutero ainda não estava de todo convertido dos erros do roma-
nismo. Enquanto, porém, comparava as Santas Escrituras com os
decretos e constituições papais, enchia-se de espanto. “Estou lendo”,
escreveu ele, “os decretos dos pontífices, e ... não sei se o papa é o
próprio anticristo, ou seu apóstolo, em tão grande maneira Cristo
é neles representado falsamente e crucificado.” — D’Aubigné. No
entanto, Lutero nessa ocasião era ainda adepto da Igreja de Roma, e
não tinha o pensamento de que em algum tempo se separaria de sua
comunhão.