A luz na Suíça
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confiar sua salvação aos padres e ao papa do que procurar pureza de
coração.
Outra classe, entretanto, recebia com alegria as novas da reden-
ção por meio de Cristo. As observâncias que Roma ordenara não
haviam conseguido trazer paz à alma, e pela fé aceitaram o sangue
do Salvador como sua propiciação. Estes voltaram para casa a fim de
revelar a outros a preciosa luz que tinham recebido. A verdade era
assim levada de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, e o número
de peregrinos ao relicário da Virgem diminuiu grandemente. Houve
decréscimo nas ofertas e, conseqüentemente, no salário de Zwínglio,
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que delas era tirado. Mas isto apenas lhe causava alegria, vendo ele
que o poder do fanatismo e superstição estava sendo quebrado.
As autoridades da igreja não tinham os olhos fechados à obra que
Zwínglio estava realizando; mas no momento elas se abstiveram de
intervir. Esperando ainda consegui-lo para a sua causa, esforçaram-
se por ganhá-lo com lisonjas; e, nesse ínterim, a verdade estava a
obter posse do coração do povo.
Os trabalhos de Zwínglio em Einsiedeln haviam-no preparado
para um campo mais vasto, e neste logo deveria entrar. Depois de
três anos ali, foi chamado para o cargo de pregador na catedral de
Zurique. Esta era então a cidade mais importante da confederação
suíça, e seria amplamente sentida a influência ali exercida. Os ecle-
siásticos, a cujo convite fora a Zurique, estavam entretanto desejosos
de impedir quaisquer inovações, e de acordo com isto se puseram a
instruí-lo a respeito de seus deveres.
“Farás todo o esforço”, disseram eles, “para coletar as receitas
do capítulo, sem desprezar a menor. Exortarás os fiéis, tanto do
púlpito como no confessionário, a pagar seus dízimos e impostos, e a
mostrar, por ofertas, sua afeição para com a igreja. Serás diligente em
aumentar as rendas que se arrecadam dos doentes, das missas e em
geral de toda a ordenança eclesiástica.” “Quanto à administração dos
sacramentos, à pregação e ao cuidado do rebanho”, acrescentaram
seus instrutores, “são também deveres do capelão. Para estes, porém,
podes empregar um substituto, e particularmente no pregar. Não
administrarás o sacramento a ninguém, a não ser a pessoas notáveis,
e unicamente quando chamado; proíbe-se fazeres isto sem distinção
de pessoas.” — D’Aubigné: