Página 171 - O Grande Conflito

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A Europa desperta
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disseminação das Escrituras; mas nulos foram decretos, anátemas
e torturas. Quanto mais ela condenava e proibia a Bíblia, maior era
a ansiedade do povo por saber o que a mesma realmente ensinava.
Todos os que sabiam ler estavam ávidos por estudar por si mesmos
a Palavra de Deus. Levavam-na consigo, liam-na e reliam-na, e
não podiam satisfazer-se antes que confiassem à memória grandes
porções. Vendo o favor com que o Novo Testamento fora recebido,
Lutero imediatamente começou a tradução do Antigo, publicando-o
em partes, tão depressa as completava.
Os escritos de Lutero eram bem aceitos, nas cidades como nas
aldeias. “O que Lutero e seus amigos compunham, outros faziam
circular. Monges, convictos do caráter ilícito das obrigações monás-
ticas, desejosos de trocar uma longa vida de indolência por outra de
ativo esforço, mas demasiado ignorantes para proclamar a Palavra de
Deus, viajavam pelas províncias, visitando aldeias e cabanas, onde
vendiam os livros de Lutero e de seus amigos. Logo enxameavam
pela Alemanha aqueles ousados colportores.” — D’Aubigné.
Ricos e pobres, doutos e ignorantes estudavam com profundo
interesse esses escritos. À noite os professores das escolas da aldeia
liam-nos em voz alta a pequenos grupos reunidos junto à lareira.
Com cada esforço, algumas almas eram convencidas da verdade e,
recebendo a Palavra com alegria, por seu turno contavam as boas
novas a outros.
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Confirmou-se o que disse o cantor inspirado: “A exposição
das Tuas palavras dá luz; dá entendimento aos símplices.”
Salmo
119:130
. O estudo das Escrituras estava operando poderosa mu-
dança no espírito e coração do povo. O governo papal colocara sobre
os seus súditos um jugo de ferro que os retinha em ignorância e
degradação. Uma supersticiosa observância de formas fora escru-
pulosamente mantida; mas em todo o seu serviço, o coração e o
intelecto haviam tido pequena parte. A pregação de Lutero, expondo
as plenas verdades da Palavra de Deus, e depois a própria Palavra,
posta nas mãos do povo comum, despertaram-lhes as capacidades
adormecidas, não somente purificando e enobrecendo a natureza
espiritual, mas comunicando nova força e vigor ao intelecto.
Podiam-se ver pessoas de todas as classes com a Bíblia nas mãos,
defendendo as doutrinas da Reforma. Os romanistas que haviam
deixado o estudo das Escrituras aos padres e monges, chamavam