Página 188 - O Grande Conflito

Basic HTML Version

184
O Grande Conflito
mão lhes traria o livramento. Suscitara, em outros países, obreiros
para levar avante a Reforma.
Em França, antes que o nome de Lutero fosse ouvido como re-
formador, já o dia começara a raiar. Um dos primeiros a receber
a luz foi o idoso Lefèvre, homem de extenso saber, professor na
Universidade de Paris e sincero e zeloso romanista. Em suas pesqui-
sas da literatura antiga, sua atenção foi dirigida para a Escritura, e
introduziu o estudo desta entre os seus alunos.
Lefèvre era entusiasta adorador dos santos, e empreendera a pre-
paração de uma história dos santos e mártires, como a apresentam as
lendas da igreja. Era esta uma obra que implicava grande trabalho;
entretanto, ia ele bem adiantado na obra, quando, julgando que pode-
ria obter proveitoso auxílio da Escritura Sagrada, começou o estudo
desta com esse objetivo. Ali encontrou, na verdade, referência a
santos, mas não idênticas às que figuravam no calendário romano.
Um caudal de luz divina irrompeu-lhe no espírito. Com espanto
e desgosto abandonou a tarefa a que se propusera, e dedicou-se à
Palavra de Deus. Pôs-se logo a ensinar as preciosas verdades que
nela descobrira.
Em 1512, antes que Lutero ou Zwínglio houvessem iniciado
a obra da Reforma, Lefèvre, escreveu: “É Deus que dá, pela fé,
a justiça que, somente pela graça, justifica para a vida eterna.” —
Wylie. Tratando dos mistérios da redenção, exclamou: “Oh! que
indizível grandeza a daquela permuta — é condenado Aquele que
não tem pecado, e o que é culpado fica livre; o Bem-aventurado
[213]
suporta a maldição, e o maldito recebe a bênção; a Vida morre, e
os mortos vivem; a Glória é submersa em trevas, e é revestido de
glória aquele que nada conhecia além da confusão de rosto!” —
D’Aubigné.
E ao mesmo tempo em que ensinava pertencer unicamente a
Deus a glória da salvação, declarava também que pertence ao ho-
mem o dever de obediência. “Se és membro da igreja de Cristo”,
dizia ele, “és membro de Seu corpo; se és de Seu corpo, então es-
tás cheio da natureza divina. ... Oh! se tão-somente pudessem os
homens chegar à compreensão deste privilégio, quão pura, casta e
santamente viveriam, e quão desprezível considerariam toda a glória
deste mundo, quando comparada com a glória interior, glória que o
olho carnal não pode ver!” — D’Aubigné.