Página 189 - O Grande Conflito

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Os nobres da França
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Houve entre os discípulos de Lefèvre alguns que avidamente lhe
ouviam as palavras, e que, muito tempo depois que a voz do mestre
silenciasse, deveriam continuar a anunciar a verdade. Um destes foi
Guilherme Farel. Filho de pais piedosos e ensinado a aceitar com
fé implícita os ensinos da igreja, poderia, com o apóstolo Paulo, ter
declarado com respeito a si mesmo: “Conforme a mais severa seita
da nossa religião, vivi fariseu.”
Atos 26:5
. Como devoto romanista,
ardia em zelo para destruir a todos os que ousassem opor-se à igreja.
“Eu rangia os dentes qual lobo furioso”, declarou ele mais tarde
referindo-se a esse período de sua vida, “quando ouvia alguém
falar contra o papa.” — Wylie. Fora incansável na adoração dos
santos, percorrendo em companhia de Lefèvre as igrejas de Paris,
adorando nos altares, e com dádivas adornando os santos relicários.
Mas estas observâncias não podiam trazer paz à alma. Fortalecia-se
nele a convicção do pecado, a qual todos os atos de penitência que
praticava não conseguiam banir. Como se fora voz do Céu, escutou
as palavras do reformador: “A salvação é de graça.” “O inocente
é condenado, e o criminoso absolvido.” “É unicamente a cruz de
Cristo que abre as portas do Céu e fecha as do inferno.” — Wylie.
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Farel aceitou alegremente a verdade. Por uma conversão seme-
lhante à de Paulo, tornou do cativeiro da tradição à liberdade dos
filhos de Deus. “Em vez de ter o coração assassino de um lobo
devorador, voltou tranqüilamente, qual cordeiro manso e inofensivo,
tendo o coração de todo desviado do papa, e entregue a Jesus Cristo.”
— D’Aubigné.
Enquanto Lefèvre continuava a propagar a luz entre seus discípu-
los, Farel, tão zeloso na causa de Cristo como fora na do papa, saiu
para anunciar a verdade em público. Um dignitário da igreja, o bispo
de Meaux, logo depois a ele se uniu. Outros ensinadores, notáveis
por sua habilidade e saber, uniram-se à proclamação do evangelho,
conquistando adeptos entre todas as classes, desde os lares dos ar-
tífices e camponeses até ao palácio real. A irmã de Francisco I, o
monarca reinante de então, aceitou a fé reformada. O próprio rei e
a rainha-mãe pareceram por algum tempo considerá-la com bene-
volência, e com grandes esperanças os reformadores aguardaram o
futuro em que a França seria ganha para o evangelho.
Suas esperanças, porém, não deveriam realizar-se. Provações
e perseguições estavam reservadas aos discípulos de Cristo. Isto,