A Escritura Sagrada e a Revolução Francesa
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o massacre de São Bartolomeu. O mundo ainda recorda com es-
tremecimento de horror as cenas daquele assalto covardíssimo e
cruel. O rei da França, com quem sacerdotes e prelados romanos
insistiram, sancionou a hedionda obra. Um sino badalando à noite
dobres fúnebres, foi o sinal para o morticínio. Milhares de protestan-
tes que dormiam tranqüilamente em suas casas, confiando na honra
empenhada de seu rei, eram arrastados para fora sem aviso prévio e
assassinados a sangue frio.
Como Cristo fora o chefe invisível de Seu povo ao ser tirado
do cativeiro egípcio, assim foi Satanás o chefe invisível de seus
súditos na horrível obra de multiplicar os mártires. Durante sete
dias perdurou o massacre em Paris, sendo os primeiros três com
inconcebível fúria. E não se limitou unicamente à cidade, mas por
ordem especial do rei estendeu-se a todas as províncias e cidades
onde se encontravam protestantes. Não se respeitava nem idade nem
sexo. Não se poupava nem a inocente criancinha, nem o homem
de cabelos brancos. Nobres e camponeses, velhos e jovens, mães
e filhos, eram juntamente abatidos. Por toda a França a carnificina
durou dois meses. Pereceram setenta mil da legítima flor da nação.
“Quando as notícias do massacre chegaram a Roma, a exultação
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entre o clero não teve limites. O cardeal de Lorena recompensou o
mensageiro com mil coroas; o canhão de Santo Ângelo reboou em
alegre salva; os sinos tangeram em todos os campanários; fogueiras
festivas tornaram a noite em dia; e Gregório XIII, acompanhado dos
cardeais e outros dignitários eclesiásticos, foi, em longa procissão,
à igreja de São Luís, onde o cardeal de Lorena cantou o Te Deum.
... Uma medalha foi cunhada para comemorar o massacre, e no
Vaticano ainda se podem ver três quadros de Vasari descrevendo
o ataque ao almirante, o rei em conselho urdindo a matança, e o
próprio morticínio. Gregório enviou a Carlos a Rosa de Ouro; e
quatro meses depois da carnificina, ... ouviu complacentemente ao
sermão de um padre francês, ... que falou daquele ‘dia tão cheio de
felicidade e regozijo, em que o santíssimo padre recebeu a notícia,
e foi em aparato solene dar graças a Deus e a São Luís’.” — O
Massacre de São Bartolomeu, de Henry White.
O mesmo espírito sobrenatural que instigou o massacre de São
Bartolomeu, dirigiu também as cenas da Revolução. Foi declarado
ser Jesus Cristo um impostor e o grito de zombaria dos incrédulos