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O Grande Conflito
congregou sob aquelas abóbadas góticas que, pela primeira vez,
fizeram ecoar a verdade. Ali, os franceses celebraram o único culto
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verdadeiro — o da Liberdade, o da Razão. Ali formulamos votos
de prosperidade às armas da República. Ali abandonamos ídolos
inanimados para seguir a Razão, esta imagem animada, a obra-prima
da Natureza.” — História da Revolução Francesa, de Thiers, vol. 2,
págs. 370 e 371.
Ao ser a deusa apresentada à Convenção, o orador tomou-a pela
mão e, voltando-se à assembléia, disse: “Mortais, cessai de tremer
perante os trovões impotentes de um Deus que vossos temores
criaram. Não reconheçais, doravante, outra divindade senão a Razão.
Ofereço-vos sua mais nobre e pura imagem; se haveis de ter ídolos,
sacrificai apenas aos que sejam como este. ... Caí perante o augusto
Senado da Liberdade, ó Véu da Razão! ...
“A deusa, depois de ser abraçada pelo presidente, foi elevada a
um carro suntuoso e conduzida, por entre vasta multidão, à catedral
de Notre Dame para tomar o lugar da Divindade. Ali foi ela erguida
ao altar-mor e recebeu a adoração de todos os presentes.” — Alison.
Não muito depois, seguiu-se a queima pública da Escritura Sa-
grada. Em uma ocasião, “a Sociedade Popular do Museu” entrou no
salão da municipalidade, exclamando: “Vive La Raison!” e carre-
gando na extremidade de um mastro os restos meio queimados de
vários livros, entre os quais breviários, missais, e o Antigo e Novo
Testamentos, livros que “expiavam em grande fogo”, disse o presi-
dente, “todas as loucuras que tinham feito a raça humana cometer.”
— Journal de Paris, 14 de novembro de 1793 (nº 318).
Foi o papado que começara a obra que o ateísmo estava a com-
pletar: A política de Roma produzira aquelas condições sociais,
políticas e religiosas, que estavam precipitando a França na ruína.
Referindo-se aos horrores da Revolução, dizem escritores que esses
excessos devem ser atribuídos ao trono e à igreja. Com estrita justiça
devem ser atribuídos à igreja. O papado envenenara a mente dos reis
contra a Reforma, como inimiga da coroa, elemento de discórdia
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que seria fatal à paz e harmonia da nação. Foi o gênio de Roma que
por este meio inspirou a mais espantosa crueldade e mortificante
opressão que procediam do trono.
O espírito de liberdade acompanhava a Bíblia. Onde quer que
o evangelho era recebido, despertava-se o povo. Começavam os