Página 248 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
distinguiu como monarca indolente, frívolo e sensual. Com uma
aristocracia depravada e cruel, uma classe inferior empobrecida e
ignorante, achando-se o Estado em embaraços financeiros, e o povo
exasperado, não se necessitava do olhar de profeta para prever uma
iminente e terrível erupção. Às advertências de seus conselheiros
estava o rei acostumado a responder: “Procurai fazer com que as
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coisas continuem tanto tempo quanto eu provavelmente possa viver;
depois de minha morte, seja como for.” Era em vão que se insistia
sobre a necessidade de reforma. Ele via os males, mas não tinha nem
a coragem nem a força para enfrentá-los. Sua resposta indolente e
egoísta sintetizava, com verdade, a sorte que aguardava a França:
“Depois de mim, o dilúvio!”
Valendo-se dos ciúmes dos reis e das classes governantes, Roma
os influenciara a conservar o povo na escravidão, bem sabendo que
o Estado assim se enfraqueceria, tendo por este meio o propósito de
firmar em seu cativeiro tanto príncipes como o povo. Com política
muito previdente, percebeu que, para escravizar os homens de modo
eficaz, deveria algemar-lhes a alma; que a maneira mais certa de
impedi-los de escapar de seu cativeiro era torná-los incapazes de
libertar-se. Mil vezes mais terrível do que o sofrimento físico que
resultava de sua política, era a degradação moral. Despojado da
Escritura Sagrada, e abandonado ao ensino do fanatismo e egoísmo,
o povo estava envolto em ignorância e superstição, submerso no
vício, achando-se, assim, completamente inapto para o governo de
si próprio.
Mas a conseqüência de tudo isto foi grandemente diversa do
que Roma tivera em mira. Em vez de manter as massas populares
em submissão cega aos seus dogmas, sua obra teve como resultado
torná-las incrédulas e revolucionárias. Desprezavam o romanismo
como uma artimanha do clero. Consideravam-no como um partido
que as oprimia. O único deus que conheciam era o deus de Roma;
seu ensino era a única religião que professavam. Consideravam sua
avidez e crueldade como os legítimos frutos da Bíblia, da qual nada
queriam saber.
Roma tinha representado falsamente o caráter de Deus e per-
vertido Seus mandamentos, e agora os homens rejeitavam tanto a
Escritura Sagrada como seu Autor. Exigira fé cega nos seus dog-
mas, sob o pretenso apoio das Escrituras. Na reação, Voltaire e seus