Página 249 - O Grande Conflito

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A Escritura Sagrada e a Revolução Francesa
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companheiros puseram inteiramente de lado a Palavra de Deus, dis-
seminando por toda parte o veneno da incredulidade. Roma calcara
o povo sob seu tacão de ferro; agora as massas, degradadas e em-
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brutecidas, ao revoltarem-se contra a tirania, arrojaram de si toda
a restrição. Enraivecidos com o disfarçado embuste a que durante
tanto tempo haviam prestado homenagem, rejeitaram a um tempo
a verdade e a falsidade; e erroneamente tomando a libertinagem
pela liberdade, os escravos do vício exultaram em sua liberdade
imaginária.
No início da Revolução foi, por concessão do rei, outorgada ao
povo uma representação mais numerosa do que a dos nobres e do
clero reunidos. Assim a balança do poder estava em suas mãos;
mas não se achavam preparados para fazer uso deste poder com
sabedoria e moderação. Ávidos de reparar os males que tinham
sofrido, decidiram-se a empreender a reconstrução da sociedade.
Uma turba ultrajada, cujo espírito estava de há muito repleto de
dolorosas lembranças, resolveu sublevar-se contra aquele estado de
miséria que se tornara insuportável, vingando-se dos que considerava
como responsáveis por seus sofrimentos. Os oprimidos puseram em
prática a lição que tinham aprendido sob a tirania, e tornaram-se os
opressores dos que os haviam oprimido.
A desditosa França ceifou em sangue a colheita do que semeara.
Terríveis foram os resultados de sua submissão ao poder subjugador
de Roma. Onde a França, sob a influência do romanismo, acendera
a primeira fogueira ao começar a Reforma, erigiu a Revolução a sua
primeira guilhotina. No local em que os primeiros mártires da fé
protestante foram queimados no século XVI, as primeiras vítimas
foram guilhotinadas no século XVIII. Rejeitando o evangelho que
lhe teria trazido cura, a França abrira a porta à incredulidade e
ruína. Quando as restrições da lei de Deus foram postas de lado,
verificou-se que as leis dos homens eram impotentes para sustar
a avassalante onda da paixão humana; e a nação descambou para
a revolta e anarquia. A guerra contra a Bíblia inaugurou uma era
que se conserva na História Universal como “o reinado do terror.”
A paz e a felicidade foram banidas dos lares e do coração dos
homens. Ninguém se achava seguro. O que hoje triunfava era alvo
de suspeitas e condenado amanhã. A violência e a cobiça exerciam
incontestável domínio.
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