Página 282 - O Grande Conflito

Basic HTML Version

278
O Grande Conflito
lentes. Vivendo, como viviam, no meio de instituições cristãs, seu
caráter tinha sido até certo ponto moldado pelo ambiente. As boas
qualidades que lhes conquistaram respeito e confiança, deviam-nas
à Bíblia, e, contudo, esses dons apreciáveis se haviam pervertido a
ponto de exercer influência contra a Palavra de Deus. Pela associa-
ção com esses homens, Miller foi levado a adotar seus sentimentos.
As interpretações corretas das Escrituras apresentavam dificuldades
que lhe pareciam insuperáveis; todavia, sua nova crença, conquanto
pusesse de lado a Escritura Sagrada, nada oferecia de melhor para
substituí-la, e longe estava ele de sentir-se satisfeito. Continuou,
entretanto, a manter estas opiniões durante mais ou menos doze
anos. Mas com a idade de trinta e quatro anos, o Espírito Santo im-
pressionou-lhe o coração com a intuição de seu estado pecaminoso.
Não encontrou em sua crença anterior certeza alguma de felicidade
além-túmulo. O futuro era negro e tétrico. Referindo-se mais tarde
aos seus sentimentos nesta época, disse ele:
“O aniquilamento era um pensamento gélido e desalentador, e o
fato de ter o homem de responder por seus atos significava destruição
certa para todos. O céu era como bronze por sobre a minha cabeça e
a terra como ferro sob os meus pés. A eternidade, que era? E a morte,
por que existia? Quanto mais raciocinava, mais longe me achava
da evidência. Quanto mais pensava, mais contraditórias eram as
minhas conclusões. Tentei deixar de pensar, mas meus pensamentos
não podiam ser dominados. Era verdadeiramente infeliz, mas não
compreendia a causa. Murmurava e queixava-me, sem saber de
quem. Sabia que algo havia de errado, mas não sabia como ou onde
encontrar o que era reto. Lamentava, mas sem esperança.”
[319]
Neste estado continuou durante alguns meses. “Subitamente”,
diz ele, “gravou-se-me ao vivo no espírito o caráter de um Salvador.
Pareceu-me que bem poderia existir um Ser tão bom e compassivo
que por nossas transgressões fizesse expiação, livrando-nos, assim,
de sofrer a pena do pecado. Compreendi desde logo quão amável
esse Ente deveria ser, e imaginei poder lançar-me aos Seus braços,
confiante em Sua misericórdia. Mas surgiu a questão: Como se pode
provar a existência desse Ser? Afora a Bíblia, achei que não poderia
obter prova da existência de semelhante Salvador, nem sequer de
uma existência futura. ...