Página 52 - O Grande Conflito

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O Grande Conflito
sos. O espírito dos homens era a tal ponto dirigido pela superstição
que a razão mesma parecia haver perdido o domínio. Enquanto os
próprios sacerdotes e bispos eram amantes do prazer, sensuais e
corruptos, só se poderia esperar que o povo que os tinha como guias
se submergisse na ignorância e vício.
Outro passo ainda deu a presunção papal quando, no século XI, o
Papa Gregório VII proclamou a perfeição da Igreja de Roma. Entre
as proposições por ele apresentadas uma havia declarando que a
igreja nunca tinha errado, nem jamais erraria, segundo as Escrituras.
Mas as provas escriturísticas não acompanhavam a afirmação. O
altivo pontífice também pretendia o poder de depor imperadores; e
declarou que sentença alguma que pronunciasse poderia ser revo-
gada por quem quer que fosse, mas era prerrogativa sua revogar as
decisões de todos os outros.
Uma flagrante ilustração do caráter tirânico do Papa Gregório
VII se nos apresenta no modo por que tratou o imperador alemão
Henrique IV. Por haver intentado desprezar a autoridade do papa,
declarou-o este excomungado e destronado. Aterrorizado pela de-
serção e ameaças de seus próprios príncipes, que por mandado do
papa eram incentivados na rebelião contra ele, Henrique pressentiu a
necessidade de fazer as pazes com Roma. Em companhia da esposa
e de um servo fiel, atravessou os Alpes em pleno inverno, a fim de
humilhar-se perante o papa. Chegando ao castelo para onde Gregório
se retirara, foi conduzido, sem seus guardas, a um pátio externo, e
ali, no rigoroso frio do inverno, com a cabeça descoberta, descalço
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e miseravelmente vestido, esperou a permissão do papa a fim de ir
à sua presença. O pontífice não se dignou de conceder-lhe perdão
senão depois de haver ele permanecido três dias jejuando e fazendo
confissão. Isso mesmo, apenas com a condição de que o imperador
esperasse a sanção do papa antes de reassumir as insígnias ou exer-
cer o poder da realeza. E Gregório, envaidecido com seu triunfo,
jactava-se de que era seu dever abater o orgulho dos reis.
Quão notável é o contraste entre o orgulho deste altivo pontífice
e a mansidão e a suavidade de Cristo, que representa a Si mesmo à
porta do coração a rogar que seja ali admitido, a fim de poder entrar
para levar perdão e paz, e que ensinou a Seus discípulos: “Qualquer
que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo.”
Mateus 20:27
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