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O Grande Conflito
as suas capacidades pertenciam a Deus, e que deveriam todas ser
aperfeiçoadas e desenvolvidas para o Seu serviço.
As igrejas valdenses, em sua pureza e simplicidade, assemelha-
vam-se à igreja dos tempos apostólicos. Rejeitando a supremacia
do papa e prelados, mantinham a Escritura Sagrada como a única
autoridade suprema, infalível. Seus pastores, diferentes dos altivos
sacerdotes de Roma, seguiam o exemplo de seu Mestre que “veio
não para ser servido, mas para servir.” Alimentavam o rebanho de
Deus, guiando-os às verdes pastagens e fontes vivas de Sua santa
Palavra. Longe dos monumentos da pompa e orgulho humano, o
povo congregava-se, não em igrejas suntuosas ou grandes catedrais,
mas à sombra das montanhas nos vales alpinos, ou, em tempo de
perigo, em alguma fortaleza rochosa, a fim de escutar as palavras da
verdade proferidas pelos servos de Cristo. Os pastores não somente
pregavam o evangelho, mas visitavam os doentes, doutrinavam as cri-
anças, admoestavam aos que erravam e trabalhavam para resolver as
questões e promover harmonia e amor fraternal. Em tempos de paz
eram sustentados por ofertas voluntárias do povo; mas, como Paulo,
o fabricante de tendas, cada qual aprendia um ofício ou profissão,
mediante a qual, sendo necessário, proveria o sustento próprio.
De seus pastores recebiam os jovens instrução. Conquanto se
desse atenção aos ramos dos conhecimentos gerais, fazia-se da Es-
critura Sagrada o estudo principal. Os evangelhos de Mateus e João
eram confiados à memória, juntamente com muitas das epístolas.
Também se ocupavam em copiar as Escrituras. Alguns manuscritos
continham a Bíblia toda, outros apenas breves porções, a que algu-
mas simples explicações do texto eram acrescentadas por aqueles
que eram capazes de comentar as Escrituras. Assim se apresenta-
vam os tesouros da verdade durante tanto tempo ocultos pelos que
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procuravam exaltar-se acima de Deus.
Mediante pacientes e incansáveis labores, por vezes nas profun-
das e escuras cavernas da Terra, à luz de archotes, eram copiadas as
Escrituras Sagradas, versículo por versículo, capítulo por capítulo.
Assim a obra prosseguia, resplandecendo, qual ouro puro, a vontade
revelada de Deus; e quanto mais brilhante, clara e poderosa era por
causa das provações que passavam por seu amor, apenas o poderiam
compreender os que se achavam empenhados em obra semelhante.
Anjos celestiais circundavam os fiéis obreiros.