Página 73 - O Grande Conflito

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Arautos de uma era melhor
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todo ramo de conhecimento. Foi educado na filosofia escolástica,
nos cânones da igreja e na lei civil, especialmente a de seu próprio
país. Em seus trabalhos subseqüentes evidenciou-se o valor destes
primeiros estudos. Um conhecimento proficiente da filosofia espe-
culativa de seu tempo, habilitou-o a expor os erros dela; e, mediante
o estudo das leis civis e eclesiásticas, preparou-se para entrar na
grande luta pela liberdade civil e religiosa. Não só sabia manejar as
armas tiradas da Palavra de Deus, mas também havia adquirido a
disciplina intelectual das escolas e compreendia a tática dos teólogos
escolásticos. O poder de seu gênio e a extensão e proficiência de
seus conhecimentos impunham o respeito de amigos bem como de
inimigos. Seus adeptos viam com satisfação que seu herói ocupava
lugar preeminente entre os espíritos dirigentes da nação; e seus ini-
migos eram impedidos de lançar o desprezo à causa da Reforma,
exprobrando a ignorância ou fraqueza do que a mantinha.
Quando ainda no colégio, Wycliffe passou a estudar as Escrituras
Sagradas. Naqueles primitivos tempos em que a Bíblia existia apenas
nas línguas antigas, os eruditos estavam habilitados a encontrar o
caminho para a fonte da verdade, o qual se achava fechado às classes
incultas. Assim, já fora preparado o caminho para o trabalho futuro
de Wycliffe como Reformador. Homens de saber haviam estudado a
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Palavra de Deus e encontrado a grande verdade de Sua livre graça,
ali revelada. Em seus ensinos tinham disseminado o conhecimento
desta verdade e levado outros a volver às Sagradas Escrituras.
Quando a atenção de Wycliffe se volveu às Escrituras, passou
a pesquisá-las com a mesma proficiência que o havia habilitado a
assenhorear-se da instrução das escolas. Até ali tinha ele sentido
grande necessidade que nem seus estudos escolásticos nem o ensino
da igreja puderam satisfazer. Na Palavra de Deus encontrou o que
antes em vão procurara. Ali viu revelado o plano da salvação, e
Cristo apresentado como único advogado do homem. Entregou-se
ao serviço de Cristo e decidiu-se a proclamar as verdades que havia
descoberto.
Semelhante aos reformadores posteriores, Wycliffe não previu,
ao iniciar a sua obra, até onde ela o levaria. Não se opôs deliberada-
mente a Roma. A dedicação à verdade, porém, não poderia senão
levá-lo a conflito com a falsidade. Quanto mais claramente discernia
os erros do papado, mais fervorosamente apresentava os ensinos da