Página 75 - O Grande Conflito

Basic HTML Version

Arautos de uma era melhor
71
a tua mãe te mostrasse o corpo que te carregou e os seios que te
nutriram, tê-los-ás de pisar a pés e ir avante diretamente a Cristo.”
Por esta “monstruosa desumanidade”, como mais tarde Lutero a
denominou, “que cheira mais a lobo e a tirano do que a cristão
ou homem”, empedernia-se o coração dos filhos contra os pais.
— Vida de Lutero, de Barnas Sears. Assim, os dirigentes papais,
[83]
como os fariseus de outrora, tornavam sem efeito o mandamento de
Deus, com a sua tradição. Assim se desolavam lares, e pais ficavam
privados da companhia dos filhos e filhas.
Mesmo os estudantes das universidades eram enganados pelas
falsas representações dos monges, e induzidos a unir-se às suas
ordens. Muitos mais tarde se arrependiam deste passo, vendo que
haviam prejudicado sua própria vida e causado tristeza aos pais; mas,
uma vez presos na armadilha, era-lhes impossível obter liberdade.
Muitos pais, temendo a influência dos monges, recusavam-se a enviar
os filhos às universidades. Houve assinalada redução no número
de estudantes que freqüentavam os grandes centros de ensino. As
escolas feneciam e prevalecia a ignorância.
O papa conferira a esses monges a faculdade de ouvir confissões
e conceder perdão. Isto se tornou fonte de grandes males. Inclinados
a aumentar seus lucros, os frades estavam tão dispostos a conceder
absolvição que criminosos de todas as espécies a eles recorriam e,
como resultado, aumentaram rapidamente os vícios mais detestá-
veis. Os doentes e os pobres eram deixados a sofrer, enquanto os
donativos que lhes deveriam suavizar as necessidades, iam para os
monges que com ameaças exigiam esmolas do povo, denunciando
a impiedade dos que retivessem os donativos de suas ordens. Ape-
sar de sua profissão de pobreza, a riqueza dos frades aumentava
constantemente e seus suntuosos edifícios e lautas mesas tornavam
mais notória a pobreza crescente da nação. E enquanto despendiam o
tempo em luxo e prazeres, enviavam em seu lugar homens ignorantes
que apenas podiam narrar histórias maravilhosas, lendas, pilhérias
para divertir o povo e torná-lo ainda mais completamente iludido
pelos monges. Contudo, os frades continuavam a manter o domínio
sobre as multidões supersticiosas, e a levá-las a crer que todo dever
religioso se resumia em reconhecer a supremacia do papa, adorar os
santos e fazer donativos aos monges, e que isto era suficiente para
lhes garantir lugar no Céu.
[84]