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O Grande Conflito
Homens de saber e piedade haviam trabalhado em vão para efe-
tuar uma reforma nessas ordens monásticas; Wycliffe, porém, com
intuição mais clara, feriu o mal pela raiz, declarando que a própria
organização era falsa e que deveria ser abolida. Despertavam-se
discussões e indagações. Atravessando os monges o país, vendendo
perdões do papa, muitos foram levados a duvidar da possibilidade
de comprar perdão com dinheiro e suscitaram a questão se não deve-
riam antes buscar de Deus o perdão em vez de buscá-lo do pontífice
de Roma. Não poucos se alarmavam com a capacidade dos frades,
cuja avidez parecia nunca se satisfazer. “Os monges e sacerdotes
de Roma”, diziam eles, “estão-nos comendo como um câncer. Deus
nos deve livrar, ou o povo perecerá.” — D’Aubigné. Para encobrir
sua avareza, pretendiam os monges mendicantes seguir o exemplo
do Salvador, declarando que Jesus e Seus discípulos haviam sido
sustentados pela caridade do povo. Esta pretensão resultou em pre-
juízo de sua causa, pois levou muitos à Escritura Sagrada, a fim
de saberem por si mesmos a verdade — resultado que de todos os
outros era o menos desejado de Roma. A mente dos homens foi
dirigida à Fonte da verdade, que era o objetivo de Roma ocultar.
Wycliffe começou a escrever e publicar folhetos contra os frades,
porém não tanto procurando entrar em discussão com eles como
despertando o espírito do povo aos ensinos da Bíblia e seu Autor.
Ele declarava que o poder do perdão ou excomunhão não o possuía
o papa em maior grau do que os sacerdotes comuns, e que ninguém
pode ser verdadeiramente excomungado a menos que primeiro haja
trazido sobre si a condenação de Deus. De nenhuma outra maneira
mais eficaz poderia ele ter empreendido a demolição da gigantesca
estrutura de domínio espiritual e temporal que o papa erigira, e em
que alma e corpo de milhões se achavam retidos em cativeiro.
De novo foi Wycliffe chamado para defender os direitos da
coroa inglesa contra as usurpações de Roma; e, sendo designado
embaixador real, passou dois anos na Holanda, em conferência com
os emissários do papa. Ali entrou em contato com eclesiásticos
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da França, Itália e Espanha, e teve oportunidade de devassar os
bastidores e informar-se de muitos fatos que lhe teriam permanecido
ocultos na Inglaterra. Aprendeu muita coisa que o orientaria em
seus trabalhos posteriores. Naqueles representantes da corte papal
lia ele o verdadeiro caráter e objetivos da hierarquia. Voltou para a