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O Grande Conflito
A morte veio, não para o reformador, mas para o pontífice que
lhe decretara destruição. Gregório XI morreu, e dispersaram-se os
eclesiásticos que se haviam reunido para o processo de Wycliffe.
A providência de Deus encaminhou ainda mais os acontecimen-
tos para dar oportunidade ao desenvolvimento da Reforma. A morte
de Gregório foi seguida da eleição de dois papas rivais. Dois poderes
em conflito, cada um se dizendo infalível, exigiam agora obediência.
Cada qual apelava para os fiéis a fim de o ajudarem a fazer guerra
contra o outro, encarecendo suas exigências com terríveis anátemas
contra os adversários e promessas de recompensas no Céu aos que o
apoiavam. Esta ocorrência enfraqueceu grandemente o poderio do
papado. As facções rivais fizeram tudo que podiam para atacar uma
a outra, e durante algum tempo Wycliffe teve repouso. Anátemas
e recriminações voavam de um papa a outro, e derramavam-se tor-
rentes de sangue para sustentar suas pretensões em conflito. Crimes
e escândalos inundavam a igreja. Nesse ínterim, o reformador, no
silencioso retiro de sua paróquia de Lutterworth, estava trabalhando
diligentemente para, dos papas contendores, dirigir os homens a
Jesus, o Príncipe da paz.
O cisma, com toda a contenda e corrupção que produziu, pre-
parou o caminho para a Reforma, habilitando o povo a ver o que o
papado realmente era. Num folheto que publicou — Sobre o Cisma
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dos Papas — Wycliffe apelou para o povo a fim de que considerasse
se esses dois sacerdotes estavam a falar a verdade ao condenarem
um ao outro como o anticristo. “Deus”, disse ele, “não mais quis
consentir que o demônio reinasse em um único sacerdote tal, mas...
fez divisão entre dois, de modo que os homens, em nome de Cristo,
possam mais facilmente vencê-los a ambos.” — Vida e Opiniões de
João Wycliffe, de Vaughan.
Wycliffe, a exemplo de seu Mestre, pregou o evangelho aos
pobres. Não contente com espalhar a luz nos lares humildes em sua
própria paróquia de Lutterworth, concluiu que ela deveria ser levada
a todas as partes da Inglaterra. Para realizar isto organizou um corpo
de pregadores, homens simples e dedicados, que amavam a verdade
e nada desejavam tanto como o propagá-la. Estes homens iam por
toda parte, ensinando nas praças, nas ruas das grandes cidades e nos
atalhos do interior. Procuravam os idosos, os doentes e os pobres, e
desvendavam-lhes as alegres novas da graça de Deus.