Pedro liberto da prisão
            
            
              231
            
            
              Liberto por um anjo
            
            
              Na última noite antes da execução, um poderoso anjo, enviado
            
            
              do Céu, desceu para resgatá-lo. As vigorosas portas que encerravam
            
            
              o santo de Deus abrem-se sem auxílio de mãos humanas; o anjo
            
            
              do Altíssimo por elas penetra, fechando-se as portas sem ruído
            
            
              por trás dele. Ele entra na cela, aberta na sólida rocha, e ali está
            
            
              Pedro dormindo o abençoado, pacífico sono da inocência e perfeita
            
            
              confiança em Deus, ligado por cadeias a vigorosos guardas, um
            
            
              de cada lado. A luz que envolve o anjo ilumina a prisão, mas não
            
            
              [295]
            
            
              desperta o adormecido apóstolo. Este é o repouso profundo que
            
            
              revigora e renova e que provém de uma boa consciência.
            
            
              Pedro não despertou antes de sentir o toque da mão do anjo
            
            
              e ouvir sua voz dizendo: “Levanta-te depressa.” Ele vê sua cela,
            
            
              que jamais havia sido abençoada com um raio de Sol, iluminada
            
            
              pela luz celestial, e um anjo de grande glória em pé diante dele.
            
            
              Maquinalmente obedece à ordem do anjo e, como ao se levantar
            
            
              erguesse as mãos, verifica que as cadeias lhe caíram dos pulsos. De
            
            
              novo a voz do anjo é ouvida: “Cinge-te, e calça as tuas sandálias.”
            
            
              De novo Pedro maquinalmente obedece, conservando o admi-
            
            
              rado olhar voltado para o visitante e crendo estar sonhando ou em
            
            
              visão. Os guardas armados estão imóveis como esculpidos no már-
            
            
              more, quando mais uma vez o anjo ordena: “Põe a tua capa, e segue-
            
            
              me.” A seguir o ser celestial move-se em direção à porta, e Pedro,
            
            
              usualmente loquaz, segue-o agora mudo de espanto. Cruzam pela
            
            
              guarda imóvel e chegam à porta, pesadamente aferrolhada, que por
            
            
              si mesma se abre, e imediatamente se fecha de novo, enquanto os
            
            
              guardas dentro e fora estão imóveis em seus postos.
            
            
              Alcançam a segunda porta, também guardada por dentro e por
            
            
              fora; ela se abre como a primeira, sem ranger de dobradiças ou
            
            
              barulho dos fechos de ferro. Passam por ela e novamente se fecha
            
            
              também sem ruído. De modo idêntico passam pela terceira porta, e
            
            
              acham-se em plena rua. Não se troca uma palavra; não há ruído de
            
            
              passos. O anjo se move suavemente diante de Pedro, cercado de uma
            
            
              luz de deslumbrante brilho, e Pedro, confuso, e julgando-se ainda
            
            
              em sonho, segue o seu libertador. Percorrem rua após rua, e então,
            
            
              [296]
            
            
              cumprida a missão do anjo, desaparece ele subitamente.