Um sinal de grandeza
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que se afinal formos salvos, não será por nossa própria bondade, mas
pela graça infinita de Deus.
A oração do publicano foi ouvida porque denotava submissão,
empenhando-se para apoderar-se da Onipotência. O próprio eu nada
parecia ao publicano senão vergonha. Assim precisa ser considerado
por todos os que buscam a Deus. Pela fé — fé que renuncia a toda
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confiança própria — precisa o necessitado suplicante apropriar-se
do poder infinito.
Nenhuma cerimônia exterior pode substituir a simples fé e a
renúncia completa do eu. Todavia ninguém se pode esvaziar a si
mesmo do eu. Somente podemos consentir em que Cristo execute a
obra. Então a linguagem da alma será: Senhor, toma meu coração;
pois não o posso dar. É Tua propriedade. Conserva-o puro; pois
não posso conservá-lo para Ti. Salva-me a despeito de mim mesmo,
tão fraco e tão dessemelhante de Cristo. Molda-me, forma-me e
eleva-me a uma atmosfera pura e santa, onde a rica corrente de Teu
amor possa fluir por minha alma.
Não é só no princípio da vida cristã que esta entrega do próprio
eu deve ser feita. Deve ser renovada a cada passo dado em direção
do Céu. Todas as nossas boas obras dependem de um poder que não
está em nós. Portanto deve haver um contínuo almejar do coração
após Deus, uma contínua, fervorosa, contrita confissão de pecado
e humilhação da alma perante Ele. Só podemos caminhar com se-
gurança por uma constante negação do próprio eu e confiança em
Cristo.
Quanto mais nos achegarmos a Jesus e mais claramente discer-
nirmos a pureza de Seu caráter, tanto mais claramente discerniremos
a extraordinária malignidade do pecado, e tanto menos teremos a
tendência de nos exaltar. Aqueles a quem o Céu considera santos,
são os últimos a alardear sua própria bondade. O apóstolo Pedro
tornou-se um fiel servo de Cristo e foi grandemente honrado com luz
e poder divinos; e tomou parte ativa na edificação da igreja de Cristo;
entretanto, Pedro jamais se esqueceu da tremenda experiência de
sua humilhação; seu pecado foi perdoado; contudo bem sabia que
unicamente a graça de Cristo lhe podia valer naquela fraqueza de
caráter que lhe ocasionou a queda. Em si mesmo nada achava de
que se gloriar.