Os primeiros juízes
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no livramento deles; e este mesmo fato demonstrou-os indignos de
serem escolhidos como Seus instrumentos especiais.
Voltando com os troféus da vitória, raivosamente censuraram a
Gideão: “Que é isto que nos fizeste, que não nos chamaste, quando
foste pelejar contra os midianitas?” “Que mais fiz eu agora do que
vós?” disse Gideão. “Não são porventura os
rabiscos
de Efraim
melhores do que a
vindima
de Abiezer?
Deus
vos deu na vossa mão
aos príncipes dos midianitas, Orebe e Zeebe; que mais pude eu logo
fazer do que vós?”
O espírito de inveja poderia facilmente ter provocado uma con-
tenda que haveria causado lutas e morticínio; mas a resposta modesta
de Gideão abrandou a ira dos homens de Efraim, e eles voltaram
em paz para casa. Firme e intransigente onde havia uma questão de
princípios, e na guerra “varão valoroso”, Gideão possuía também
um espírito de cortesia que raramente se vê.
O povo de Israel, em gratidão pelo seu livramento dos midia-
nitas, propôs a Gideão que ele se tornasse seu rei, e que o trono se
confirmasse aos seus descendentes. Essa proposta estava em direta
violação dos princípios da teocracia. Deus era o rei de Israel, e para
este a colocação de um homem no trono seria a rejeição de seu
Soberano divino. Gideão reconheceu este fato; sua resposta mostra
quão verdadeiros e nobres eram os seus intuitos. “Sobre vós eu
não dominarei”, declarou ele, “nem tão pouco meu filho sobre vós
dominará; o Senhor sobre vós dominará.”
Mas Gideão caiu em outro erro, que acarretou desgraça à sua
casa e a todo o Israel. O perigo de inatividade que se segue a uma
grande luta acha-se muitas vezes repleto de maiores perigos do que
o tempo de conflito. A este perigo estava Gideão agora exposto. Um
espírito de inquietação o possuiu. Até ali se contentara com realizar
o que Deus lhe determinava; mas agora, em vez de esperar guia
divina, começou a fazer planos por si mesmo. Havendo os exércitos
do Senhor ganho uma assinalada vitória, Satanás redobrara seus
esforços para transtornar a obra de Deus. Assim, idéias e planos
foram sugeridos à mente de Gideão, pelos quais o povo de Israel se
transviou.
Porque lhe houvesse sido mandado oferecer sacrifício sobre a
pedra onde o anjo lhe aparecera, concluiu Gideão que ele fora desig-
nado para oficiar como sacerdote. Sem esperar a aprovação divina,