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Patriarcas e Profetas
em tempo de provações demonstrar perante os homens e os anjos
que o Senhor pode depositar confiança em nós nas situações difíceis
a fim de executar a Sua vontade, honrar o Seu nome, e abençoar o
Seu povo.
Saul estava no desagrado de Deus, e no entanto indisposto a
humilhar o coração em arrependimento. O que lhe faltava em pie-
dade verdadeira, experimentava realizar pelo seu zelo nas formas
de religião. Saul não ignorava a derrota de Israel quando a arca de
Deus foi levada ao acampamento, por Hofni e Finéias; entretanto,
sabendo de tudo isto, resolveu mandar buscar a sagrada arca e seu
sacerdote assistente. Se ele pudesse por este meio inspirar confiança
no povo, esperava reunir de novo seu exército esparso, e dar batalha
aos filisteus. Dispensaria então a presença e o apoio de Samuel, e
assim se livraria da crítica e das importunas reprovações do profeta.
O Espírito Santo havia sido concedido a Saul para lhe iluminar
o entendimento e abrandar o coração. Recebera fiel instrução e re-
provação do profeta de Deus. E no entanto quão grande era a sua
perversidade! A história do primeiro rei de Israel apresenta um triste
exemplo do poder dos maus hábitos nos verdes anos. Em sua moci-
dade Saul não amou nem temeu a Deus; e aquele espírito impetuoso,
não adestrado à submissão em seus primeiros anos, estava sempre
pronto para rebelar-se contra a autoridade divina. Aqueles que em
sua juventude acalentam uma santa consideração pela vontade de
Deus, e que fielmente cumprem os deveres de seu cargo, estarão
preparados para o serviço mais elevado na vida posterior. Mas não
podem os homens durante anos perverter as faculdades que Deus
lhes deu, e então, quando quiserem efetuar uma mudança em si,
encontrar tais faculdades frescas e desembaraçadas para seguirem
um caminho inteiramente oposto.
Os esforços de Saul para despertar o povo mostraram-se inú-
teis. Encontrando sua força reduzida a seiscentos homens, ele partiu
de Gilgal, e retirou-se para a fortaleza de Geba, tomada recente-
mente dos filisteus. Esta fortaleza estava do lado do sul de um vale
profundo e escabroso, ou garganta, alguns quilômetros ao norte do
local de Jerusalém. Ao lado do norte do mesmo vale, em Micmas,
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estava acampada a força filistéia, ao mesmo tempo em que tropas
destacadas saíam em diferentes direções a fim de devastar o país.