Página 72 - Patriarcas e Profetas (2007)

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Patriarcas e Profetas
dicularizar, que eles partilharam do mesmo espírito, resistiram aos
convites da misericórdia, e logo se acharam entre os mais ousados
e arrogantes escarnecedores; pois ninguém é tão descuidado e tão
longe vai no pecado como aqueles que tiveram uma vez a luz, mas
resistiram ao convincente Espírito de Deus.
Os homens daquela geração não eram todos, na mais ampla
acepção do termo, idólatras. Muitos professavam ser adoradores de
Deus. Pretendiam que seus ídolos eram representações da divindade,
e que por meio deles o povo poderia obter uma concepção mais
clara do Ser divino. Esta classe estava entre as principais a rejeita-
rem a pregação de Noé. Esforçando-se eles para representarem a
Deus por meio de objetos materiais, cegavam a mente à Sua ma-
jestade e poder; deixavam de compenetrar-se da santidade de Seu
caráter, ou da natureza sagrada e imutável de Seus mandamentos.
Generalizando-se o pecado, pareceu cada vez menos maligno, e de-
clararam finalmente que a lei divina não mais estava em vigor; que
era contrário ao caráter de Deus castigar a transgressão; e negaram
que Seus juízos viessem a cair sobre a Terra. Houvessem os homens
daquela geração obedecido à lei divina, e teriam reconhecido a voz
de Deus na advertência de Seu servo; sua mente, porém, se havia
tornado tão cega pela rejeição da luz, que realmente criam ser a
mensagem de Noé uma ilusão.
Não eram as multidões, ou a maioria, os que se encontravam
do lado direito. O mundo se achava arregimentado contra a justiça
de Deus e Suas leis, e Noé era considerado um fanático. Satanás,
quando tentou Eva a desobedecer a Deus, disse-lhe: “Certamente não
morrereis”.
Gênesis 3:4
. Grandes homens, mundanos e honrados, e
homens sábios, repetiam o mesmo. “As ameaças de Deus”, diziam
eles, “têm por fim intimidar, e nunca se cumprirão. Não necessitais de
estar alarmados. Tal acontecimento como a destruição do mundo por
Deus, que o fez, e o castigo dos seres que Ele criou, nunca sucederá.
Estai em paz; não temais. Noé é um fanático extravagante.” O mundo
divertia-se com a loucura do velho iludido. Em vez de humilhar o
coração perante Deus, continuaram na desobediência e impiedade,
como se Deus não lhes houvera falado por meio de Seu servo.
Mas Noé permanecia semelhante a uma rocha em meio da tem-
pestade. Rodeado pelo desdém e ridículo popular, distinguia-se por
sua santa integridade e fidelidade inabalável. Um poder assistia a
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